O deputado federal e ex-ministro da Cidadania Osmar Terra (MDB-RS), em depoimento na CPI da Covid, defendeu Jair Bolsonaro da acusação de genocídio e disse que o presidente  teve a atuação limitada pelo Supremo Tribunal Federal. Em abril de 2020, o STF garantiu a governadores e prefeitos autonomia para determinar medidas como isolamento social e fechamento de comércio, em complemento a ações definidas pelo governo federal.

” O STF impediu e limitou o poder do presidente de interferir nessas decisões. Essas 500 mil mortes não estão ocorrendo em um outro país, onde o presidente podia decidir isso. As pessoas ficaram limitadas pelos governadores”, declarou.

O senador Omar Aziz reagiu e classificou a afirmação de Osmar Terra como uma “mentira”. “Não tem mentira maior do que dizer que o STF tirou poder do presidente. É a maior mentira que existe. Tanto não tirou, que o presidente vai para “motociatas” sem máscara e ninguém faz nada. Se  não tivesse poder, ele não faria isso. Se fosse um cidadão comum, ele não faria isso. O presidente precisa se vacinar para dar exemplo”, disse Aziz.

Osmar Terra foi além: em alguns momentos do depoimento, o deputado pôs em dúvida a eficácia das medidas de isolamento e distanciamento social. Para o ex-ministro, o “contágio familiar” contribuiu para elevar o pico de infecções pelo coronavírus.

“Não tem nenhum impacto fazer lockdown e quarentena. A aglomeração em ambiente fechado, esse sim é o grande lugar de contágio. Isso acontece em todas as casas. As pessoas chegam em casa e tiram a máscara. Se isolamento funcionasse, não morria ninguém em asilo. Trancar todo mundo em casa por 18 meses até encontrar vacina é uma proposta fora da realidade”, disse.

Nesse momento, o presidente da CPI da Pandemia voltou a intervir. Omar Aziz lembrou que o pico de mortes no Amazonas ocorreu justamente quando o governador Wilson Lima reviu medidas como o fechamento do comércio.

“Responsabilizo por essas mortes no Amazonas aqueles que foram contra o lockdown. Podem estar até festejando porque se abriu o comércio. Mas cada pessoa que foi para a rua, cada pessoa que comemorou no Twitter ou no Facebook não tem o direito de deitar num travesseiro e dormir tranquilamente. São cúmplices de assassinato do povo amazonense”, afirmou.

Repercussão

O depoimento de Osmar Terra foi marcado por embates entre parlamentares governistas e da oposição. O senador Humberto Costa (PT-CE) disse que Osmar Terra “é autor intelectual” dos problemas que o Brasil enfrenta no combate à pandemia.

“Vossa Excelência influenciou o presidente da República. Basta a gente olhar as previsões que fez de quando acabaria essa pandemia. A gente vai vendo que a posição do presidente da República vai acompanhando isso. Eu não sou relator [da CPI]. Porém, , no mínimo, Vossa Excelência é autor intelectual de boa parte dos problemas que estamos vivendo, porque influenciou aquele cidadão que está lá no Palácio do Planalto”, afirmou.

O senador Eduardo Girão (Podemos-CE) responsabilizou os governos estaduais e municipais por falhas no enfrentamento à pandemia. Citou casos de corrupção com recursos federais na compra de respiradores e na instalação de hospitais de campanha.

“Qual é o custo da corrupção? Não faltou dinheiro do governo federal para estados e municípios para se enfrentar a pandemia. Mas sobraram escândalos. É a Polícia Federal quem diz. Estamos tentando rastrear os bilhões de reais, mas não temos conseguido êxito”, disse.

O senador Marcos Rogério (DEM-RO) apresentou à CPI um vídeo em que o médico Drauzio Varella classifica a covid-19 como “uma gripezinha”. O material foi produzido em janeiro de 2020, antes do primeiro caso da doença no Brasil. Segundo o parlamentar, a posição de Varella demonstra que “todos podem errar”.

“Um homem altamente qualificado e influente não acertou em todas as suas previsões logo no começo da pandemia. Não é privilegio de uma só pessoa errar. Aliás, muitos erraram. Para não dizer, todos erramos de certa forma em relação a essa pandemia. O mundo inteiro errou e continua errando porque não existem respostas seguras sobre diversas questões. Todos erraram buscando acertar. Porém, erraram”, disse.

Em contraposição, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) apresentou um segundo vídeo de Drauzio Varella, gravado em maio de 2020. Na ocasião, o médico admite ter “remorso por não ter avaliado bem qual seria a agressividade do vírus”.

A senadora Simone Tebet (MDB-MS) sugeriu que Drauzio Varella seja convidado “para, por 15 minutos, falar ou mandar um vídeo, para que nós possamos corrigir esse erro”. ” Que nós não mais utilizemos, em nome de uma defesa de tese, seja ela qual for, inverdades ou informações restritas, pela metade, que não condizem com a verdade, para defender uma tese e acabar difamando ou injuriando qualquer cidadão de bem”, afirmou.

 

 

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