Nas últimas eleições, a quantidade de eleitores de 16 e 17 anos que compareceram às urnas foi a menor em 30 anos. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, menos de 5% dos jovens dessa idade votaram nas eleições de 2020 – uma queda de mais de 50% se comparado a 2016. Essa falta de interesse dos adolescentes pela política foi tema de um estudo científico da estudante Ariane Minetto Araújo, do nono ano do Colégio Positivo – Internacional, de Curitiba, apresentado na Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) da Universidade de São Paulo (USP) – maior evento nacional do setor, que revela jovens cientistas desde 2003.

A pesquisa, realizada com 344 pessoas, mostra que há um padrão de desinformação ou carência de opinião formada, demonstrando uma importante lacuna no processo de politização. O estudo revelou que muitos jovens acreditam que são impotentes, que sua participação, principalmente o voto, não tem influência alguma na realidade sociopolítica de um país, portanto, acabam se distanciando da política.

“Muitos também acreditam que as regras/leis que foram feitas para conduzir e limitar as ações políticas foram e são tão manipuladas e ignoradas que eles não acreditam que haja uma forma de acabar com essas infrações”, destaca Ariane. O problema, segundo o estudo, é que essa aversão ou descaso resultam em ausência no cenário político, de modo que a indiferença ou a neutralidade acabam por legitimar todas as decisões tomadas no cenário político.

Ainda de acordo com a análise, o resultado, e causa desse desinteresse dos jovens pela política, é a ignorância. “Se falarmos, por exemplo, da Reforma da Previdência aprovada recentemente no Congresso Nacional, quantos jovens sabem que essa reforma irá, principalmente, afetar a eles próprios? Quantos têm um conhecimento básico sobre esse tema, que é de grande importância para suas vidas profissionais e o seu futuro?”, questiona a pesquisadora. “Essa ignorância resulta em decisões que não tiveram a participação daqueles que serão efetivamente afetados. Tanto que essa reforma foi decidida e aprovada num Congresso em que 1% dos parlamentares são jovens, portanto, quantos jovens estavam lá, decidindo o futuro deles mesmos? Essa ignorância permite que nós sejamos regidos por leis e decisões que não foram formadas, nem tomadas, com a nossa participação”, alerta a estudante.

Para o assessor de História do Colégio Positivo e especialista em História do Brasil, André Marcos Silva, a juventude não se interessa pela política em virtude de não perceber mudanças rápidas e tangíveis. “É tudo muito demorado e burocrático e sabemos que os jovens dessa geração querem tudo rápido, com agilidade, porque tudo acontece instantaneamente para eles”, constata.

De acordo com o professor, a escola e os pais são agentes indispensáveis para o interesse dos jovens pela política. “Precisamos fornecer ferramentas para que eles possam olhar, criticar e analisar partidos, pessoas e ideias. É aí que vemos a importância de disciplinas como História, Filosofia e Sociologia. Os pais possuem um papel essencial nisso, incentivando essas crianças e adolescentes a lerem. Quanto mais leitura e informação tiverem, melhor. Clássicos como Rousseau, Maquiavel, Hobbes dão condições de pensar em nossa sociedade”, sugere.

Gosto pela política pode ser despertado na escola

Segundo a BNCC, uma das orientações para contextualizar as práticas de linguagem no Ensino Médio em Língua Portuguesa, é que se trabalhe a formulação de projetos de lei coletivos, baseando-se na discussão do Estatuto da Juventude, bem como a análise de campanhas, programas políticos, e de políticas públicas. “Mas para um jovem chegar ao Ensino Médio com essa habilidade e conhecimento, é imprescindível que ele esteja inserido nesses tipos de discussões desde o Ensino Fundamental”, destaca Ariane.

Ariane  conta que o gosto pela política surgiu em casa, quando, por volta de 8 anos de idade, passou a participar dos debates entre seus pais e seu irmão – quatro anos mais velho. “Eles sempre debatiam os processos que tornaram o Brasil o que ele é hoje, assim como discutiam as vantagens e desvantagens dos diferentes tipos de governo existentes no mundo. E eu, apesar de não compreender muitos dos assuntos sobre os quais eles discutiam, sempre estava perguntando o que aquilo queria dizer ou se determinado tema tinha relação com o que eu também estudava”, conta.

Na mesma escola que Ariane, estuda Pedro Krassuski Fonseca. Ele conta que sempre teve vontade de participar de forma ativa da sociedade e na solução de seus problemas, mas confessa que isso não é comum entre seus colegas. “Não existe na Educação brasileira uma formação básica sobre sermos parte do Brasil. Não é criado entre nós nem um senso de pertencimento, responsabilidade ou identificação. O que acaba gerando cada vez mais jovens engajados em seus desejos individuais, e sem nenhuma forma de consciência social”, lamenta.

Aos 17 anos e prestes a terminar o Ensino Médio, Pedro participa ativamente de um movimento político que luta pela imprensa livre e independente, liberdade econômica, separação de poderes, eleições livres e idôneas e fim de subsídios diretos e indiretos para ditaduras. “Existe um caráter idealista e renovador que só a juventude é capaz de trazer para o debate público. A juventude, em diversos momentos da história, com a sua indignação, energia e coragem para fazer diferente, foi responsável por grandes avanços sociais e políticos. O processo político sem a juventude fica parado no tempo”, justifica.

O professor André Marcos Silva lembra diversos momentos da história nos quais a participação dos jovens foi importante. “Essa participação é discutida desde a Grécia Antiga. Sócrates, inclusive, foi sentenciado em virtude de ter tentado convencer a juventude a essa participação. É fundamental que o jovem participe, que tenha algum tipo de integração. Eles realmente são o futuro de uma sociedade. Pensando historicamente, a juventude dos anos 60, por exemplo, com todo aquele movimento universitário antiguerra do Vietnã, a luta por direitos das mulheres, dos negros, e a própria ditadura militar no Brasil. Aquela famosa geração de 1968 marcou a história do mundo e não foi um movimento sindicalista, operário, comunista ou socialista, foi meramente um movimento espontâneo envolvendo os jovens. Precisamos de uma nova geração como essa, pois, para tentar algumas mudanças, é fundamental que o jovem se interesse e participe”, afirma.

Interferência da pandemia

Ariane destaca que, durante a pandemia, os colegas passaram a falar mais sobre política, nas aulas e nas redes sociais. “Percebi que alguns deles começaram a refletir mais em relação ao cenário político do Brasil e do mundo. Algumas vezes, em chamadas de vídeo, quando alguém mencionava algum acontecimento político, grande parte das pessoas presentes nas chamadas já tinha conhecimento do assunto e, em alguns casos, já tinha até opiniões formadas sobre tal. Acredito que os temas e assuntos discutidos e ensinados em sala de aula fizeram com que essas pessoas estivessem mais atentas ao mundo que os cerca”, relata.

Segundo ela, a possibilidade de dar voz às pessoas de classes sociais e de comunidades muitas vezes ignoradas e marginalizadas é um dos benefícios da utilização da internet como espaço para o debate de temas cívico-políticos. “A web também viabiliza um espaço de diálogo mais acessível e possível entre políticos e comunidade, permitindo que os cidadãos cobrem seus representantes acerca de suas funções e discutam temas de importância para a sociedade”, explica.

Fonte: Colégio Positivo

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