O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deve assinar sua filiação ao Partido Liberal (PL) no dia 22 de novembro.
Na quarta-feira (10), por sua vez, o ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro formalizou sua filiação ao partido Podemos.
Falando sobre a filiação de Bolsonaro ao PL, a cientista política Lara Mesquita disse que o presidente não se apressou para escolher o partido por ser algo conveniente para ele e para seu tipo de política.
“O Bolsonaro sempre foi um político de baixo clero, ele nunca construiu uma carreira dentro do partido, de ocupar postos de comando, ou de controlar diretórios. Então, como ele não estava disposto a formar uma coalizão formal, ele entendeu que era conveniente não prestar contas a nenhum partido”, afirmou.
Além disso,  ressaltou que, caso Bolsonaro fosse afiliado a um partido, ele não teria a mesma liberdade que tem hoje, como “sair falando qualquer coisa, afrontar o STF”, pois estas atitudes afetam a imagem do partido.
“O político partidário, quando ele fala não pensa apenas na imagem dele, mas reflete também a imagem do partido ao qual ele é afiliado. E o Bolsonaro não queria nenhum tipo de controle sobre ele”, ressalta.
Segundo Lara, a primeira ideia do presidente foi criar um partido próprio. Contudo, parece que eles entenderam que isso não seria conveniente em 2022, pois o novo partido não teria recurso do fundo partidário, não teria tempo na televisão e ficaria com a parcela mínima do fundo especial de financiamento de campanha.
Após abandonar a ideia de criar o próprio partido, foi preciso encontrar um partido que acolhesse não apenas o Bolsonaro, mas também seu grupo, e isso significa que haverá conflitos políticos regionais, já que o partido que receberá Bolsonaro e seu grupo já tem políticos em determinados estados e que vão participar das eleições em 2022.
“Qualquer partido que vai receber Bolsonaro sabe que vai perder uma parcela de seus atuais afiliados, porque o presidente não é um consenso e ele não é um político que busca contemplar, ele vai sempre ao enfrentamento”, explicou.
A cientista política observa que os partidos analisaram os benefícios da entrada de Bolsonaro e seu grupo, bem como a disposição de alocar recursos que o presidente não tem para realizar campanha política.
De acordo com a especialista, Bolsonaro deixou seu antigo partido porque, naquele momento, ele queria controlar o partido, bem como assumir o controle do diretório nacional e outros, contudo, ele havia combinado que teria o controle apenas durante o processo eleitoral.

União Brasil

Falando sobre o potencial de destaque do União Brasil, fruto da fusão entre o DEM e o PSL nas eleições de 2022, Lara Mesquita diz que há uma correlação entre desempenho de prefeitos e deputados federais.
Pensando neste aspecto, o DEM foi bem na eleição municipal, aumentando o número de prefeitos, bem como todos os partidos de centro-direita e direita, demonstrando que possuem uma boa capilaridade de prefeitos.
Com isso, o DEM pretende ocupar um espaço da direita, diferentemente do PP e do PL, que são partidos que sempre aderem ao governo de ocasião, caso seja vantajoso para eles.

Bolsonaro escolhe PL

De acordo com Lara Mesquita, o acordo entre Bolsonaro e o PL ocorreu graças à combinação de fatores após a análise partidária, aceitando não apenas o presidente como também seu grupo, além de reservar uma parcela de recursos disponíveis.
Além disso, o partido entendeu que, mesmo que uma parte de seus afiliados saiam, o partido vai ganhar mais com o novo grupo do presidente do que perder com aqueles que estão de saída, e estes critérios acabaram fazendo com que Bolsonaro se afiliasse ao PL.

Sergio Moro se afilia ao Podemos

Falando sobre o novo partido de Sergio Moro, a especialista afirma que o Podemos sempre foi um partido pequeno e nunca contou com uma grande bancada de deputados, ou seja, é um pequeno partido de direita que está tentando se revitalizar, contudo, deve ter dificuldades para ultrapassar a cláusula de desempenho nas eleições de 2022 e terá de lutar pela sua sobrevivência.
“O Podemos não é um partido de expressão, não tem condição de lançar candidatos aos governos estaduais, principalmente candidatos competitivos em muitos estados. Então, lançar a candidatura de Moro é uma tentativa de aumentar a visibilidade do partido, bem como a bancada de deputados, e lutar pela sobrevivência do partido”, declarou.
Por sua vez, Moro, como cita a especialista, “havia se queimado” no espectro político durante a Lava Jato, a Vaza Jato, quando fica claro que ele tem uma visão muito particularista de criminalização da política e que ele está perseguindo alguns partidos, fazendo que muitos partidos rejeitem Moro.
Com diversos partidos recusando Moro, com a impossibilidade de ele se afiliar a partidos investigados pela Lava Jato e seu desejo de provar sua imparcialidade no combate à corrupção, Moro optou pelo Podemos.
“Talvez a candidatura dele tenha mais objetivo de tentar recuperar a biografia dele […]”, afirmou a cientista política.
Com relação à popularidade de Moro, a especialista afirma que, no atual momento, o ex-juiz se encontra em uma posição melhor que a de Doria, Mandetta e Eduardo Leite para a próxima eleição, que provavelmente será focada na economia do país.
“Ainda que a corrupção não seja um tema central na eleição de 2022, neste momento o Moro está melhor que o governador de São Paulo, por exemplo”, declarou.
Além disso, a cientista política ressalta que a eleição de 2022 parece estar voltando ao padrão de polarização anti-PT, já que o partido tem uma presença consolidada no Brasil.
Para disputar com Bolsonaro e PT, Moro estaria tentando entrar na briga através da aproximação de militares, inclusive há um grupo do Exército que já declarou apoio a ele. Além disso, Moro está tentando construir uma base dentro da Polícia Federal, em uma tentativa de dividir a base bolsonarista.
“Também temos que recordar que, na verdade, o Bolsonaro não foi eleito apenas com os bolsonaristas, este grupo de bolsonaristas daria em torno de 20-25% […] O Moro quer pegar uma parcela do eleitor que não é bolsonarista, mas que votou no Bolsonaro em 2018”, concluiu.
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