No último domingo (19), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) foram fotografados juntos pela primeira vez desde o início das negociações entre ambos para formar uma chapa presidencial.
Antigos adversários políticos, os dois se aproximaram nas últimas semanas conforme foi ventilada na imprensa a possibilidade de que Alckmin se tornasse candidato a vice-presidente ao lado de Lula — que lidera as pesquisas de intenção de voto com folga. Na semana passada, o ex-governador paulista deixou o PSDB após 33 anos e agora negocia a filiação a um novo partido.
A possível chapa Lula-Alckmin nasce polêmica. Além de pertencerem a espectros políticos distintos, há diversos exemplos de trocas de farpas entre ambos ao longo dos anos, principalmente no contexto de eleições passadas. Além disso, parte do eleitorado de esquerda não está satisfeita com a aproximação.
Em um jantar no domingo (19), porém, os dois deram declarações sobre pacificação e falaram em deixar o passado para trás, demonstrando publicamente que pretendem unir forças para as eleições presidenciais de 2022.

Lula busca Alckmin para acenar ao ‘mercado’ e afastar imagem de radical

Para o cientista político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie Rogério Baptistini, a possível união entre Lula e Alckmin não busca acrescentar votos à candidatura petista, mas garantir uma chapa “palatável ao mercado” e afastar do ex-presidente a pecha de “radical”.

“A aproximação de Lula com Alckmin tem a ver com a estratégia de tornar uma candidatura Lula mais palatável ao mercado e, sobretudo, à classe média mais conservadora, mais próxima do que nós diríamos o campo político da centro-direita. E o ex-governador de São Paulo é um homem comedido, religioso e que poderia retirar o temor de uma radicalização do candidato do PT”, afirma Baptistini em entrevista à Sputnik Brasil.

Essa não é uma estratégia nova. Em todas as eleições presidenciais vencidas pelo PT, o partido fez acenos semelhantes, primeiro com o empresário José Alencar (PL), nos dois mandatos de Lula, e, depois, com Michel Temer (MDB), durante os mandatos de Dilma Rousseff (PT) — que perdeu a faixa presidencial em um processo de impeachment apoiado pelo emedebista.
Tendo vista as vitórias eleitorais dessas chapas, Baptistini acredita que o PT não perderá votos com a aproximação de Alckmin. Essa história recente, explica o cientista político, mostra ainda que o temor relacionado a uma possível radicalização do partido é “infundado”.
“O PT tem uma longa história em governos municipais, estaduais e à frente do governo federal. E é uma história de um partido de centro, voltado para a centro-esquerda, que executa políticas que não desafiam o sistema econômico vigente, não desafiam o sistema legal vigente, que são políticas, até certo ponto, que tendem a acomodar o sistema econômico brasileiro, o capitalismo brasileiro”, explica o professor.
Para Baptistini, isso indica que o Brasil vive uma polarização política infundada, que não chega ao mundo real, sendo que o PT não representa uma ameaça de radicalização à esquerda.
O cientista político acredita que os temores de um “autoritarismo fascista” na outra ponta da suposta polarização política, representada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), são também infundados. No mundo real, segundo ele, pesam mais as mazelas sociais enfrentadas pela população. Dessa forma, Baptistini salienta que Bolsonaro representa um “desgoverno” de “práticas nefastas”, e que isso abre caminho para que Lula avance em direção ao Planalto em 2022.

“O candidato de centro, hoje, é o candidato Lula. Ele encarna, com seja lá quem vier a ser seu vice, a alternativa ao desgoverno [Bolsonaro] e a esperança dos eleitores mais humildes, desfavorecidos por essas práticas nefastas que têm infelicitado o país — seja no combate à pandemia, seja na desregulamentação da economia, seja no enfrentamento das graves questões ambientais. Ou seja, se existe um problema na sociedade é a ausência de governo. Essa ausência de governo joga a população, que padece dela, na memória histórica de Lula e dos governos do PT”, conclui.

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