Em meio às consequências da pandemia da covid-19, cresce a evasão escolar entre os jovens de famílias de baixa renda. Para discutir os impactos dessa situação, a reportagem conversou com a economista Vivian Almeida, do Ibmec, que apontou políticas que podem mudar o cenário que ameaça o futuro do país.
Conforme dados da 2ª Pesquisa G02Mob/FirstCom Pós-Vacina COVID-19, o número de famílias das classes C e D que afirmam que seus filhos pararam ou pretendem parar de estudar para ajudar nas despesas domésticas cresceu de forma significativa durante a pandemia.
Nessa situação estão 43% das pessoas que responderam o questionário da pesquisa, sendo que a primeira edição do levantamento identificou31% dos entrevistados sob risco de evasão escolar, em março de 2021. A pesquisa mais recente ouviu de forma remota 4.520 pessoas das classes C e D de todas as unidades federativas do país, entre 1º de outubro e 30 de setembro do ano passado.
Segundo a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a classe D corresponde às famílias com renda entre dois e quatro salários mínimos, enquanto a classe C engloba as famílias com renda entre quatro e dez salários mínimos. De acordo com a mais recente atualização do governo federal, o salário mínimo brasileiro é de R$ 1,212,00.
Essa é uma situação preocupante que pode aumentar a desigualdade social e minar o desenvolvimento do país. É o que aponta a economista Vivian Almeida, professora do Ibmec, que destaca que diante da crescente exigência de especialização no mercado de trabalho, o afastamento dos jovens das escolas e do “fluxo contínuo de adquirir conhecimento” é um problema sério que compromete a criatividade do país como um todo.
A pesquisadora ressalta que a necessidade inicial de fechar as salas de aula foi importante para conter o avanço do novo coronavírus, mas as consequências dessa medida de emergência devem ser enfrentadas. Além do impacto no aprendizado, Almeida destaca a força da desigualdade social nesse processo.

“Essa interrupção faz com que a volta não se dê aonde parou, é necessário um tempo para que se possa retornar [ao fluxo de aprendizado]. Então sem dúvidas há impacto em termos de aprendizado. Além disso, a pandemia escancarou as múltiplas desigualdades que a gente vive no nosso país”, aponta.

A desigualdade social durante o afastamento das salas de aula colocou as crianças pobres em uma situação ainda mais delicada. Esse cenário, acredita a pesquisadora, é mais um desafio a ser levado em conta, visto que o acesso a computadores e smartphones de melhor qualidade durante a pandemia colocou estudantes com maior renda familiar em uma situação bastante privilegiada em termos educacionais.
“As pessoas precisam sobreviver. À medida que essas barreiras forem ficando maiores, mais intransponíveis e os custos dessa retomada individualmente forem maiores, a gente vai deixando essas crianças para trás”, ressalta.

Políticas para reverter o cenário são conhecidas

Segundo a economista do Ibmec Vivian Almeida, há conhecimento acumulado suficiente para a implementação de políticas públicas que possam reverter os efeitos da pandemia sobre o aprendizado no Brasil. Entre as possibilidades, Almeida destaca o investimento na primeira infância.
“Se você consegue investir na primeira infância agora, o retorno que você tem em termos individuais e sociais é tão grande que ele vai sendo recuperado e gerando retorno positivo ao longo de gerações”, explica.

“É extremamente preocupante como esse jovem vai entrar no mercado de trabalho ou se manter no mercado de trabalho, e quais são as potencialidades desses jovens que pretendem evadir”, avalia a economista em entrevista à Sputnik Brasil.

Almeida destaca que o período da pandemia mostrou a necessidade de formação em tecnologia, dado que cresceu o uso de ferramentas digitais e de modalidades como o teletrabalho. Com o problema educacional gerado pela pandemia, uma das questões levantadas é a formação de profissionais qualificados para esses setores.

“O denominador de geração de capital humano está menor, então o nosso potencial produtivo no futuro também está menor. A gente está contratando um futuro menos auspicioso do que poderíamos ter”, lamenta.

Além do investimento nessa faixa etária, de olho nas gerações futuras, a professora também aponta que medidas imediatas podem ser implementadas, tais como políticas de permanência da criança e do adolescente na escola, além de programas de capacitação e inclusão. Segundo Almeida essas políticas são fundamentais para retomar a produtividade e os investimentos.

“De alguma forma a gente tem políticas ao longo do processo educacional que já estão muito conhecidas, muito consolidadas na literatura nacional e internacional, que permitem que a gente possa vislumbrar uma saída para essa crise que vivemos nos últimos anos”, conclui.

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