Durante sua campanha presidencial em 2019, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, prometeu tornar a Arábia Saudita em um “pária” em retaliação ao assassinato do jornalista dissidente Jamal Khashoggi, ocorrido no consulado saudita de Istambul, na Turquia.
A estatal petrolífera saudita Saudi Aramco anunciou, na quinta-feira (10), que ajudaria a construir uma imensa refinaria no noroeste da China. A novidade vem um dia após Riyadh, capital saudita, esnobar os apelos de Biden para expandir a produção de petróleo a fim de colaborar com a proibição dos EUA de comprar insumos energéticos russos.
A Aramco informou na última quinta-feira (10) que trabalharia em conjunto com a North Huajin Chemical Industries Group Corporation e com a Panjin Xincheng Industrial Group, ambas da China, para construir uma refinaria integrada e um complexo petroquímico em Panjin, província de Liaoning.
A unidade terá capacidade para produzir 300.000 barris de petróleo por dia e terá um craqueamento de etileno de 1,5 milhão de toneladas por ano, além de uma unidade de paraxileno de 1,3 milhão de toneladas por ano.
As negociações para construir o complexo industrial começaram em 2019, após uma visita a Pequim do príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman, mas foram interrompidas após o início da pandemia de COVID-19.
Eles foram revividos no início de fevereiro, quando os sauditas tentaram capitalizar os preços do petróleo em rápida ascensão. Na época, o negócio foi avaliado em US$ 10 bilhões (R$ 57 bilhões), segundo a S&P Global.
O anúncio do acordo segue dois desenvolvimentos relacionados. Em 4 de fevereiro, a empresa estatal russa de gás Rosneft assinou um acordo de dez anos com a China National Petroleum Corporation (CNPC, na sigla em inglês) para enviar 200.821 barris por dia de petróleo para refinarias no noroeste da China.
“De acordo com o acordo da Rosneft e da CNPC, há perspectivas de interação trabalhadas em um conjunto de áreas de desenvolvimento de baixo carbono, particularmente na redução de emissões de gases de efeito estufa, incluindo metano, tecnologias de eficiência energética, bem como captura de CO2 e armazenamento (CCS)”, disse a Rosneft.
O acordo veio apenas duas semanas antes de a Rússia lançar uma operação especial na Ucrânia com o objetivo de neutralizar o país antes que ele possa se tornar uma plataforma de lançamento para um ataque da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) à Rússia.
A operação provocou sanções maciças dos Estados Unidos e seus aliados com o objetivo de destruir a economia russa, incluindo uma decisão de 8 de março de proibir a importação de petróleo russo para os Estados Unidos.
Como consequência, os preços do petróleo, já em alta, atingiram US$ 130 (R$ 659,75) o barril, e os preços da gasolina nos EUA também começaram a subir acentuadamente, prejudicando gravemente o mercado de ações dos EUA.
Em resposta, Biden procurou alguns dos outros produtores de petróleo do mundo, incluindo Arábia Saudita e Venezuela – duas nações que ele criticou fortemente.
Na quarta-feira (9), a Casa Branca tentou organizar ligações entre Biden, bin Salman e o xeque Mohammed bin Zayed al Nahyan, governante dos Emirados Árabes Unidos.
“Havia alguma expectativa de um telefonema, mas não aconteceu”, disse um funcionário dos EUA que fazia parte do esforço ao jornal The Wall Street Journal.
No ano passado, o governo de Biden levantou o sigilo dos arquivos do gabinete do diretor da CIA, alegando que bin Salman estava diretamente ligado ao assassinato em 2018 do jornalista dissidente saudita Jamal Khashoggi no consulado saudita em Istambul, Turquia – sobre o qual o o príncipe herdeiro negou qualquer envolvimento. Em 2019, Biden disse que “os faria pagar o preço e os tornaria de fato os párias que são”.
Em entrevista ao The Atlantic na semana passada, o príncipe herdeiro saudita disse à revista: “Simplesmente, eu não me importo” se Biden o entende ou não. “Cabe a ele pensar nos interesses da América. Vá em frente”.
Além disso, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse a repórteres na quinta-feira (10) que, embora diplomatas dos EUA tenham viajado a Caracas para tentar convencer o presidente venezuelano Nicolás Maduro a não apoiar a Rússia, até agora nenhum acordo foi alcançado.
O esforço de um ano de Biden para reviver o acordo nuclear de 2015 com o Irã, que seu antecessor torpedeou, também pode estar na berlinda enquanto os republicanos atacam Biden por continuar trabalhando com diplomatas russos no acordo.
Tanto os EUA quanto a Rússia fazem parte do acordo, juntamente com várias outras potências mundiais. Se revivido, o Irã teria que aceitar limites rígidos na qualidade e quantidade de urânio que poderia refinar para seu programa de energia nuclear em troca da redução das sanções dos EUA – o que permitiria que Washington compre o petróleo iraniano.
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