Nos últimos meses, uma série de eventos climáticos extremos atingiu diversos estados brasileiros quase que de forma simultânea. De um lado, chuvas torrenciais provocaram tragédias em Petrópolis (RJ), na Bahia e em Minas Gerais. Do outro, uma seca histórica afetou centenas de localidades na Região Sul do país e, mais recentemente, em municípios de oito dos nove estados nordestinos.

Dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) apontam que, somente em 2018, cerca de um milhão de brasileiros foram afetados pelas inundações e quase 43 milhões pela seca.

A concentração de todos esses fenômenos climáticos intensos em um curto período de tempo não é uma coincidência. É o que afirma Lincoln Alves, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Na data em que se celebra o Dia Mundial da Água, nesta terça-feira (22), ele avalia que a seca, antes um fenômeno restrito a algumas localidades, agora tem sido percebida em todas as regiões do país.

“Antigamente, o problema da seca estava relacionado com determinadas regiões do país, como no interior do Nordeste. Porém, nas últimas décadas, o que temos visto é a ocorrência de secas em todas as demais regiões do país. Mesmo a Região Amazônica, que é rica do ponto de vista de água, tem experimentado redução da precipitação, reduzindo a vazão de rios, afetando a pesca e ficando mais vulnerável às queimadas. Todas as regiões já têm esse sinal da mudança do clima”, explica.

Os dados históricos de precipitação dos últimos 40 anos, segundo o Inpe, revelam justamente que o número de períodos secos tem aumentado em grande parte do país, em particular nas regiões Centro-Oeste, sudeste da Amazônia e no Sudeste.

No Brasil, em particular, isso tem um grande impacto para a produção de energia, já que mais de 60% da geração nacional de energia elétrica é proveniente de hidrelétricas, que dependem de reservatórios de água para o funcionamento.

No ano passado, na maior crise hídrica dos últimos 91 anos, o país se viu ameaçado por um colapso no sistema elétrico, por causa da seca no Centro-Sul. Foi preciso aumentar a taxa extra na conta de luz e a contratação de energia termelétrica para que os reservatórios recuperassem a capacidade.

Em fevereiro, a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou seu mais recente relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), organismo que reúne cientistas de todo o mundo para acompanhar essas transformações. No documento, o IPCC aponta que, com a aceleração da crise climática, seus efeitos tendem a se intensificar em um menor período de tempo.

No Brasil e na América Latina, os cientistas preveem riscos para a segurança hídrica, que inclui a disponibilidade de água para satisfazer as demandas da população, das atividades econômicas e de conservação de ecossistemas. Eles também citam consequências para a segurança alimentar, já que as secas causam prejuízos às colheitas; e para a vida, ameaçada por eventos extremos como inundações, erosões, deslizamentos, tempestades e elevação do nível do mar.

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