A Secretaria de Saúde de Santo André, por meio da equipe do Consultório na Rua, foi premiada no 35º Congresso de secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo. O trabalho exitoso foi realizado em 2021 com duas mulheres gestantes, usuárias de substâncias químicas e em situação de rua. Após o nascimento dos bebês, as personagens do trabalho apresentado deixaram as ruas e hoje vivem com familiares.
A premiação é concedida pelo Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo, organizador de evento. Para a coordenadora de saúde mental de Santo André, Marines Santos de Oliveira, receber esse prêmio tem uma imensa importância, sobretudo, no momento atual do país.
“Premiar um trabalho que cuida de mulheres em situação de rua, que fazem uso de drogas e querem exercer o seu papel da maternidade não é um reconhecimento qualquer. É dizer que a gente pode sim fazer e dispor de um cuidado onde as pessoas estão tecendo suas redes de vida, de existência”, explicou.
“Em mais um ano de pandemia, em que o principal assunto e foco é nesse tema, fomos corajosos em escrever um trabalho sobre o cotidiano das mulheres gestantes em situação de rua. Nesse dois anos, a equipe não suspendeu as abordagens e nem deixou de estar nos territórios, viadutos, cenas de uso. Ao contrario, intensificamos o processo, fortalecemos as parcerias, vacinamos toda essa população e seguimos com o trabalho, independente das dificuldades, sejam econômicas ou sanitárias”, pontuou o encarregado técnico do Consultório na Rua, Antônio Rinaldo Pagni.
O prêmio representa o reconhecimento do mérito dos atores envolvidos e é um incentivo às experiências transformadoras na gestão municipal do SUS. Além de Santo André, outros 14 trabalhos foram premiados de um total de 725 inscritos.
Em 2022 foram premiadas 15 experiências e outras 15 receberam Menção Honrosa, além de uma premiação selecionada pelos congressistas por meio do ´Voto popular’. Todos os 30 trabalhos foram selecionados para a mostra nacional “Brasil, aqui tem SUS”, que vai acontecer nos dias 12 e 13 de julho em Campo Grande (MS).
“É uma equipe que faz esse enfrentamento em um momento muito grave que a gente vive, com a ampliação da desigualdade e vulnerabilidade social, o estigma e preconceito que já existe contra essa população com a questão do uso de drogas, ai você coloca tudo em um mesmo lugar, são muitas violências e vulnerabilidades. A equipe leva escuta, acolhimento, alívio, e tenta proporcionar a essas pessoas o papel de cidadão de direitos, de vida e maternidade também”, concluiu a coordenadora de Saúde Mental, Marines Santos de Oliveira.
Sobre o Consultório na Rua
A unidade de Consultório na Rua de Santo André foi implantada em 2013, sendo oriunda da equipe de Redução de Danos. Atualmente conta com uma Equipe de Modalidade III, composta por Médicos Clínicos, Terapeuta Ocupacional, Psicóloga, Assistente Social, Enfermeira, Técnica de Enfermagem e Agentes Redutores de Danos, funcionando de segunda a sexta, das 8h às 17h, sob gestão da Coordenação da Saúde Mental do município.
Nos últimos nove anos, a equipe acompanhou 33 gestantes em situação rua. Ao longo desse período foram registrados, através da base de dados do e-SUS: nenhum caso em 2013; oito casos em 2014; quatro casos em 2015; três casos em 2016; seis casos em 2017; nenhum caso em 2018; oito caos em 2019; três casos em 2020; um caso em 2021;
Muitas gestantes conseguiram sair da situação de rua, resgataram vínculos sociais e familiares, que se tornaram atores importantes nesse momento do exercício da maternidade. Outras mulheres optaram por permanecer na rua durante toda a gestação, desejando maternar o bebê, permanecendo sob o cuidado específico do Consultório na Rua. Nesse recorte, muitas aceitaram o acompanhamento de outras equipes de saúde do Caps AD, Unidades de Acolhimento Adulto e das Unidades Básicas de Saúde, ampliando a rede de apoio.
“Estamos e estaremos sempre na rua, cuidando dos munícipes e respeitando a liberdade e o desejo de cada um, pois nosso dever não é julgar, nosso dever é cuidar de todos. Ficamos muito felizes em cuidar dessas gestantes, com todo o apoio da rede de saúde andreense, e felizes com o reconhecimento de toda a dedicação que temos a esse trabalho. Apesar de todo estigma em torno da mulher em situação de rua que usa substâncias psicoativas e que deseja exercer a maternidade, é possível realizar propostas de acompanhamento e cuidado, promovendo o direito e o acesso à saúde da mãe e do bebê”, finalizou Antônio Rinaldo Pagni.