Primeiro longa de Thais Fujinaga aborda maternidade e a posição da mulher numa cultura patriarcal
Premiada curta-metragista, diretora de filmes como “L” e “Os Irmãos Mai”, Thais Fujinaga estreia na direção de longas com A FELICIDADE DAS COISAS, que ganhou o prêmio da Associação Brasileira de Críticos de Cinema, a Abraccine, na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo de 2021, e também o prêmio de roteiro e atriz coadjuvante (Magali Biff), no FestCine Aruanda, também do ano passado. O filme é uma produção da Filmes de Plástico e coprodução da Lira Cinematográfica, e chega aos cinemas em 19 de maio, com distribuição da Embaúba Filmes.
No longa, Paula (Patrícia Saravy) tem 40 anos e está grávida de seu terceiro filho. Com as crianças, ela se hospeda na modesta casa de veraneio que a família comprou há pouco, no litoral paulista. Além dos filhos, ela também conta com a presença de sua mãe (Magali Biff). Entre as melhorias que pretende fazer no imóvel está construir uma piscina, mas as coisas não se mostram muito favoráveis a esse sonho. Ao mesmo tempo, seu filho adolescente está se afastando dela, descobrindo um novo mundo na medida em que amadurece.
Fujinaga classifica o filme como fruto da combinação entre lembranças de sua infância e imaginação. O roteiro, assinado pela diretora, faz analogias entre os acontecimentos mais concretos do filme com a situação do Brasil num delicado momento de impacto político.
“A FELICIDADE DAS COISAS nos aproxima de uma mulher que experimenta uma espécie de ressaca, o refluxo de todas as coisas pelas quais ela ansiava, mas não podia ter. Através dela, vemos como o amor materno pode se revelar de formas tortuosas, afetado por sentimentos de ressentimento e de culpa. Paula luta contra as impossibilidades materiais como uma forma de escapar de suas frustrações e trazer alegria para a vida de sua família. Seus esforços acontecem no campo do consumo, ela quer ter uma piscina”, explica a diretora.
Ela conta também que o longa foi rodado exatamente na região onde passou os verões de sua adolescência, e o que impulsionou o filme foram “minhas lembranças daquela época, juntamente com meu interesse em discutir dinâmicas sociais desenvolvidas em espaços específicos, me deram a motivação para começar a pensar sobre esta história.”
Ela ressalta que, quando filmou, em 2019, o país estava em meio a um revés político, social, cultural e econômico. “Estávamos filmando enquanto a ANCINE, a agência federal responsável pelo desenvolvimento do cinema nacional, estava sendo destruída pelo novo governo. O primeiro longa poderia ser o último. A piscina de Paula e o filme que estava sendo feito começaram a ter um significado análogo para mim – ambos eram o símbolo de um ‘quase lá’, da felicidade que tinha que ser adiada.”
Outro interesse da diretora, que a acompanha desde seus curtas, é a infância. Em todos seus filmes há crianças e adolescentes. “Eu sempre tive boas experiências com essas faixas etárias. A atriz e preparadora Thais Medeiros preparou o Messias Gois e a Lavínia Castelari [que fazem os filhos de Paula], passou a história toda com eles sem mostrar o roteiro, e fez exercícios teatrais para trazer segurança e desenvoltura para cada um. Eu me concentrei nas adultas. E, num certo ponto, juntamos todo mundo para ensaiar. Esses encontros foram super importantes para desenhar a família e foi muito especial ver esses quatro se achando em suas personagens.”
Fujinaga destaca que, em seus filmes, o trabalho com o elenco é fundamental, e vê seu relacionamento no set com atrizes e atores como uma espécie de elo entre seus curtas e seu longa de estreia. “No meu primeiro filme, ‘Hoje é o seu dia’, eu tive muita dificuldade de dirigir as atrizes. Eu me sentia tímida para dizer para uma atriz, com muito mais experiência, o que eu queria da cena, o que eu queria dela, ou o que eu não queria. Depois desse curta, eu me dediquei muito a pensar formas de me relacionar com atrizes/atores, formas de tornar possível um trabalho de fato conjunto entre direção e elenco, e sinto que isso está refletido aqui.”
Desde sua estreia em festivais, A FELICIDADE DAS COISAS tem recebido críticas bastante positivas. John Hopewell, escreve na Variety, que o filme é “um retrato minucioso da maternidade sob pressão“. “O longa possui uma característica do que de melhor o cinema brasileiro produz hoje: o interesse na fricção dos detalhes e a descoberta dos seres através de suas minúcias”, diz Francisco Carbone, no Cenas de Cinema.
“A diretora converte a dureza não só em sensibilidade, mas também em uma generosidade profunda que podem fazer do espectador um cúmplice das personagens. O roteiro evita o excesso melodramático para navegar na melancolia e na esperança de que tal situação temporária pode até durar muito, mas que novos dias virão e cada um deles pode ser diferente“, escreveu Diego Benevides, no site da Abraccine.
“Pela tessitura do cotidiano e do político no retrato de uma família de classe média brasileira que se revela em gestos, afetos, faltas e frustrações, sobretudo a aflição materna em um cenário – e país – à beira do abismo, o júri da crítica ABRACCINE, formado por Raquel Gomes, Diego Benevides e Lorenna Montenegro, premia o filme A FELICIDADE DAS COISAS, de Thais Fujinaga“, declarou a associação como justificativa para o prêmio.
https://youtu.be/KJymWa-P1tc
Sinopse
Paula sonha em construir uma piscina para os filhos na sua modesta casa de praia. Quando os planos se desfazem por conta de problemas financeiros, ela se vê cada vez mais sufocada pelo peso das responsabilidades.
Ficha Técnica
Direção: Thais Fujinaga
Roteiro: Thais Fujinaga
Produção: Lara Lima, Thiago Macêdo Correia
Elenco: Patrícia Saravy, Magali Biff, Messias Gois, Lavinia Castelari
Direção de Fotografia: André Luiz de Luiz
Desenho de Produção: Dicezar Leandro
Montagem: Alexandre Taira
Gênero: drama, comédia
País: Brasil
Ano: 2021
Duração: 87 min.
Biografia
Thais Fujinaga
Thais Fujinaga nasceu em São Paulo. Seus curtas-metragens receberam mais de 60 prêmios e menções em festivais ao redor do mundo, incluindo Menção Especial na Berlinale, por “L” (2011). Além de seu trabalho em projetos pessoais, Thais também desenvolveu parcerias com importantes realizadores e realizadoras do Brasil, como no filme “A Cidade Onde Envelheço” (2016), dirigido por Marilia Rocha e escrito por Thais. Ela também trabalhou como roteirista em séries da HBO, Globoplay e Netflix. “A Felicidade das Coisas” é seu longa-metragem de estreia na direção.
Filmografia como diretora
A FELICIDADE DAS COISAS – Longa-metragem, 2021
OS IRMÃOS MAI – Curta-metragem, 2013
L – Curta-metragem, 2011
HOJE É O SEU DIA – Curta-metragem, 2008
A VISITA – Curta-metragem, 2009
Sobre a Filmes de Plástico
Criada em 2009, a Filmes de Plástico é uma produtora mineira de Contagem, hoje sediada em Belo Horizonte, formada pelos diretores André Novais Oliveira, Gabriel Martins, Maurílio Martins e pelo produtor Thiago Macêdo Correia.
Juntos seus filmes já foram selecionados em mais de 200 festivais no Brasil e no mundo como a Quinzena dos Realizadores em Cannes, Festival de Cinema de Locarno, Festival de Rotterdam, FID Marseille, Indie Lisboa, BAFICI, Festival de Cartagena, Los Angeles Brazilian Film Festival, Festival de Cinema de Brasília e Mostra de Cinema de Tiradentes, ganhando mais de 50 prêmios.
Em 2022 a produtora lançou, no Festival de Sundance, o longa Marte Um, dirigido por Gabriel Martins, com estreia prevista no Brasil para o segundo semestre. Entre os próximos projetos da produtora estão O Último Episódio, dirigido por Maurilio Martins e E os meus Olhos ficam Sorrindo, dirigido por André Novais Oliveira.
Sobre a Lira Comunicações
Fundada em 2008 e capitaneada pela produtora Lara Lima, a Lira Cinematográfica se dedica ao desenvolvimento e realização de projetos de cinema, com foco em produções autorais que retratam de forma singular as realidades brasileiras.
Ao longo de seus primeiros anos, a companhia produziu curtas-metragens de realizadores de destaque do cenário contemporâneo, como “Estátua!”, de Gabriela Amaral Almeida (Melhor Curta-Metragem pelo júri da Crítica no Festival de Brasília) e “Tea for Two”, de Julia Katharine (o primeiro filme de uma realizadora trans a ser exibido em circuito comercial no Brasil).
O primeiro longa-metragem da produtora, “Seus ossos e seus olhos”, de Caetano Gotardo, estreou em Rotterdam em 2019 e fez passagens por importantes eventos dedicados ao cinema autoral, como Viennale, IndieLisboa, Tiradentes e a mostra Veredas, no Lincoln Center em Nova York. A produtora lança agora, em coprodução com a Filmes de Plástico, “A Felicidade das Coisas”, longa de estreia de Thais Fujinaga.
Seus próximos projetos são “O Estranho”, dirigido por Flora Dias e Juruna Mallon, que recebeu os prestigiosos fundos internacionais Hubert Bals e Visions Sud Est e tem lançamento previsto para 2023; e “O Teu Silêncio”, de Maria Clara Escobar, uma coprodução Brasil-França-Portugal, atualmente em fase de captação de recursos. Ambos os projetos terão também a distribuição da Embaúba Filmes.
Sobre a Embaúba Filmes
A Embaúba Filmes é uma distribuidora especializada em cinema brasileiro, criada em 2018 e sediada em Belo Horizonte. Seu objetivo é contribuir para a maior circulação de obras autorais brasileiras. Ela busca se diferenciar pela qualidade de seu catálogo, que já conta com mais de 30 títulos, em pouco mais de 4 anos de atuação, apostando em filmes de grande relevância cultural e política. A empresa atua também com a exibição de filmes pela internet, por meio da plataforma Embaúba Play, que exibe não apenas seus próprios lançamentos, como também obras de outras distribuidoras e contratadas diretamente com produtores, contando hoje com mais de 500 títulos em seu acervo, dentre curtas, médias e longas-metragens do cinema brasileiro contemporâneo.