Os meninos já nasceram amando automobilismo, se deslocando em motocas e bicicletas, antes mesmo de aprenderem a andar, foram alfabetizados lendo a revista quatro rodas (eu trabalhava na Editora Abril e assinava todas as revistas)  e sem nenhuma influência da família e/ou do pai (que gostava de corridas mas nunca praticou esporte automobilístico).

 

Aniversário de 1 ano do Vitor - Arquivo Pessoal
Aniversário de 1 ano do Vitor – Arquivo Pessoal

 

Vitor com 5 anos e Felipe com 1 ano - Arquivo Pessoal
Vitor com 5 anos e Felipe com 1 ano – Arquivo Pessoal

A história do Kart começou quando mudamos para Aldeia da Serra. Sempre que passávamos em frente ao kartódromo de Aldeia o Vitor pedia para entrar e andar de kart. Mas, como ele tinha apenas 5 anos, achávamos que ele não poderia. Para nosso espanto, um dia paramos no kartódromo e perguntamos se ele poderia andar. Eles responderam que se ele alcançasse os pedais, ele andaria. Ele alcançou e a história começou a ser desenhada.

Vitor aos 5 anos na escolinha de Kart do tio Domingos
Vitor aos 5 anos na escolinha de Kart do tio Domingos

O Vitor  ingressou na escolinha de kart do tio Domingos e treinava todos os domingos pela manhã. Aos poucos, fomos testemunhando o prazer que ele sentia pelo esporte, pela velocidade, pelo desafio, pela disciplina, e principalmente, pelas competições.

Eu confesso que já tinha muito receio pela segurança dele e busquei diversos profissionais de saúde que pudessem dizer que era um esporte perigoso ou que comprometeria o desenvolvimento dele. Mas todos foram inânimes em dizer que esse é um esporte saudável, como qualquer outro, e por isso não tinham nenhuma restrição quando ao Vitor praticá-lo. Somente aconselhavam a prática profissional, e não como brincadeira, para garantir maior segurança.

Eu já não tinha argumentos quando o Vitor, aos 8 anos, começou a dizer que seu maior sonho era ser piloto e que ele queria correr profissionalmente de kart.

Minha grande surpresa foi quando o Eduardo me contou que tinha conseguido patrocínio para o Vitor começar a correr profissionalmente. Ele queria saber se eu concordava e se eu apoiaria esse sonho…

Minha grande surpresa foi quando o Eduardo me contou que tinha conseguido patrocínio para o Vitor começar a correr profissionalmente. Ele queria saber se eu concordava e se eu apoiaria esse sonho…

Vitor em 2009 / Arquivo pessoal
Vitor em 2009 / Arquivo pessoal

Confesso que eu não acreditava que esse patrocínio duraria muito e imaginei que essa “brincadeira de ser piloto” seria só uma fase e logo passaria. Por isso, eu concordei, deixei minha carreira profissional de lado (iria aproveitar o tempo para aprofundar meus estudos) e me prontifiquei a ajudar nas escolhas e organização do planejamento. Começamos a buscar informações sobre equipes, campeonatos, vestuário, entidades federativas, normas e regras. Tudo era muito novo para nós, e recebemos muito apoio das famílias que tinham filhos disputando profissionalmente. Eles dividiram seus sonhos, seus desafios e dificuldades, suas escolhas, seus erros e seus acertos e nos mostraram o caminho a seguir. Descobri que no automobilismo formamos uma grande família.

O Vitor começou a disputar profissionalmente e demonstrou muito talento e determinação. Seu estilo técnico e preciso impressionava equipes, preparadores e amantes do esporte. Em pouco tempo ele estava fazendo teste para ingressar numa das melhores equipes de competição nacional e começou uma trajetória de inúmeras conquistas em campeonatos Regionais, Nacionais e Internacionais, além de importantes premiações, como o Capacete de Ouro.

O desenvolvimento saudável e a determinação do Vitor eram espantosos. O esporte é um grande aliado na educação dos filhos. Ele estimula a disciplina, a boa alimentação, o bom condicionamento físico e mental, o estudo convencional e o aprendizado de outras línguas. Ele auxilia também em outras habilidades fundamentais para os dias atuais, como foi o caso do Vitor, que era muito tímido para falar em público, aceitou fazer aulas de teatro, e se tornou uma referência de desempenho em entrevistas com jornalistas, equipes, programas  e patrocinadores.

Vitor com 12 anos - Arquivo Pessoal
Vitor com 12 anos – Arquivo Pessoal

A dedicação da família de um esportista é fundamental e eu me dedicava integralmente aos compromissos do Vitor, tendo como companheiro constante o Felipe, que praticamente foi criado nos kartódromos brasileiros. E como poderia ser diferente? O Felipe desde cedo também sonhava em ser piloto “como o meu irmão”. Mas seria somente influência do Vitor ou ele também teria talento? Tivemos que arriscar e deixar o Felipe começar a competir para saber como seria seu desempenho. E quanto talento descobrimos nesse menino de 6 anos.

 

Felipe e Vitor em 2009 - Arquivo pessoal
Felipe e Vitor em 2009 – Arquivo pessoal

Nesse momento surge um misto de alegria e desespero.

A gratidão de ter dois filhos esportistas e o desespero de ter dois filhos pilotos.

Essa foi a primeira, das inúmeras vezes que ouvi:

“E como fica o coração de mãe?”

 

O Felipe começou a disputar profissionalmente e também demonstrou muito talento e determinação. Seu estilo arrojado e determinado encantava a todos e produzia grandes espetáculos.

Pilotos da Equipe ONS 2009 - Arquivo Pessoal
Pilotos da Equipe ONS 2009 – Arquivo Pessoal

Nós já estávamos familiarizados e consolidados no mundo do kartismo e foi mais fácil conduzir o planejamento para o Felipe. Ele ingressou numa das melhores equipes de competição nacional e começou uma trajetória de inúmeras conquistas em campeonatos Regionais, Nacionais e Internacionais, além de importantes premiações, como o Capacete de Ouro.

Vitor Mundial de kart - Arquivo Pessoal
Vitor Mundial de kart – Arquivo Pessoal

A decisão de levar o Vitor para participar de competições fora do Brasil foi um grande desafio em nossas vidas. Ficou combinado que o Eduardo ficaria no Brasil, trabalhando e cuidando das corridas do Felipe. Eu iria para a Europa, pela primeira vez, sozinha, com uma criança de 13 anos, para conquistar um lugar nas equipes de altíssima competência da Europa e disputando contra pilotos talentosos e importantes no cenário internacional.

Foi um momento importante, de grande crescimento e desenvolvimento na carreira do Vitor, mas foi também um momento muito especial, de grande convívio e cumplicidade entre nós, seja nos momentos de dificuldades ou nos momentos de comemoração. São lembranças que marcaram nossas vidas e nos tornaram companheiros de sonhos.

Durante o dia, eu acompanhava o Vitor nos treinos e corridas. Quando ele ia dormir, eu descia para a recepção do hotel, e aproveitando o fuso horário (em torno de 4 a 5 horas a menos no Brasil), eu acompanhava ,por vídeo, o Felipe nas rotinas do final de tarde: lição de casa, trabalhos, planejamento de treinos e corridas, conversas e histórias do dia a dia. E o coração de Mãe? O coração doía de saudades…

Vitor e Felipe, vitória na 1a etapa da Porsche, 2019
Vitor e Felipe, vitória na 1a etapa da Porsche, 2019

Dois filhos, dois pilotos, dois caminhos. Como defini-los?Dois talentos, dois estilos, que se completam, e demonstram que não existe um único modelo a seguir, mas que estilos diferentes podem levar ao mesmo resultado: ao reconhecimento de um grande talento, um grande piloto.

Vitor e Felipe, 2019 - Arquivo Pessoal
Vitor e Felipe, 2019 – Arquivo Pessoal

O tempo passou, eles cresceram e seguiram novos caminhos: em fórmulas, em carros de Turismo – GTs, sempre com muito talento, dedicação e sucesso.

São muitas conquistas, muitas vitórias, mas são também muitos desafios diários.

 

 

Agora, eles  são independentes, não precisam mais que eu os acompanhe. Retomei minha carreira, e me sinto realizada. Mas nós seguimos juntos, planejando, torcendo, comemorando cada pedacinho desse sonho em família.

Mas voltando ao assunto que me trouxe até aqui…E o coração da mãe?

Para concluir e finalizar, transcrevo uma reflexão que fiz alguns anos atrás…

 Ah, coração de mãe de piloto…
As pessoas nos olham e pensam no orgulho de ter filhos disciplinados e talentosos.
O que elas não imaginam é a dor de ter que aceitar e apoiar que nossos filhos tenham escolhido uma profissão tão instável, frustrante e arriscada.
Como mães, nosso maior instinto e dever é o de proteger a vida de nossos filhos.
Vê-los num esporte de risco é se questionar todos os dias se você está fazendo a coisa certa.
Você sabe que pode inviabilizar ou proibir que eles se arrisquem, mas você tem esse direito?
Só nos resta acreditar que se as coisas estão dando certo, se as oportunidades aparecem, se o dinheiro entra, é porque Deus traçou e permitiu esse caminho para eles.
Que Deus continue abençoando e protegendo nossos filhos.

Que Deus acalme nossos corações e amenize nossa saudade nessas constantes ausências.
Que nossas orações vibrem intensamente para cada piloto, para cada mãe aflita, para cada família que abraça o sonho de seus filhos. 

Fonte, texto e imagens: Cláudia Baptista

Ontem tivemos a honra de conhecer um pouco mais dessa mãezona na live que fizemos no instagram do JW News, mulher de coragem que largou sua vida, para viver o sonho de um filho…. Compartilhamos com vocês esse momento que vale a pena ser visto e revisto várias vezes. Desejamos a todas as mamães, um Feliz Dia!

https://www.instagram.com/p/CdRFkvapAx7/

https://www.instagram.com/p/CdRFkvapAx7/

 

Assista a homenagem que preparamos para essa mamãe mais que especial!!

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