Mia, de 19 anos, já não tem que abaixar a cabeça quando apresenta um documento numa loja ou no caixa do banco. Murilo, de 38, também tem celebrado o fato de não precisar mais usar, como ele mesmo diz, o “falecido nome” em nenhuma ocasião. Aliás, celebrar seria um exagero se tanto ele quanto Mia não tivessem que enfrentar uma longa jornada até serem aceitos como são. Ambos são transexuais e conseguiram, depois de muita luta, a retificação de seus nomes de batismo.

Esses dois casos, no entanto, ainda estão longe de ser o padrão diante de um sistema que ainda tenta silenciar as vozes (e os direitos) das populações LGBTQIA+.  E é justamente para encurtar os caminhos e amparar essa camada da população que a Coordenadoria de Diversidades, em parceria com o ambulatório DiaTrans, da Secretaria de Saúde, lançou nesta quarta (11) a campanha “Diadema: Meu Nome Importa”. A ação também conta com participação da Defensoria Pública da cidade.

“Diadema: Meu Nome Importa” foi criada para atender a todas as pessoas que, assim como Mia e Murilo, querem realizar a retificação de nome e gênero e não sabem a quem recorrer. A escolha do ambulatório DiaTrans como ponto de partida da campanha é justamente pelo fato de o local já ser um espaço de acolhimento de homens e mulheres trans, além de pessoas não-binárias. “Quem vier aqui receberá todas as orientações tanto pessoalmente quanto em materiais de divulgação, além de orientações para conseguir a isenção nos custos da retificação”, explica Robson de Carvalho, coordenador de Diversidades da Prefeitura de Diadema.

A expectativa é que, com a campanha, cada vez mais pessoas trans e não binárias consigam realizar o sonho de serem chamadas como quiserem – hoje, apenas 25% das pessoas atendidas pelo DiaTrans possuem nome retificado. “É muito pouco para o tamanho da população LGBTQIA+ que temos na cidade, mas com essa iniciativa, que é pioneira, com certeza vamos mudar esse cenário”, comentou Robson.

O lançamento contou a presença da vice-prefeita e secretária de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, Patty Ferreira, e do secretário de Governo, Dheison Renan.

DiaTrans

Criado em 15 de setembro, o DiaTrans é um serviço da Secretaria de Saúde, em parceria com a Coordenadoria de Diversidades, e possui uma equipe formada por uma vinculadora, enfermeira, psicóloga, médico infectologista e assistente social. Após o acolhimento, o serviço disponibiliza consultas médicas e acompanhamento de outras categoriais profissionais, respeitando as necessidades e especificidades de cada indivíduo com o objetivo de melhorar a qualidade de vida desse usuário. A população trans poderá ser referenciada para tratamento de outras necessidades nas demais unidades que compõem a rede municipal de saúde, dentro da lógica de cuidado integral da saúde.

Toda pessoa que procurar pelo serviço será acolhida, entretanto, jovens entre 16 e 18 anos não podem realizar hormonioterapia, autorizado por lei apenas a pessoas com mais de 18 anos.

Em sete meses de atendimento, o ambulatório conseguiu traçar um perfil dos usuários atendidos entre 1º de setembro de 2021 e 30 de março de 2022. Das 130 pessoas, 68 são mulheres trans e 55 homens trans. Em relação à cor, 38% cor branca, 36% parda e 20% preta.

Apenas 25% das pessoas atendidas pelo DiaTrans possuem nome retificado. Cerca de metade dos usuários (48%) faz uso de hormônio e a maioria (61%) afirma ter sofrido violência em algum momento da vida. Das 130 pessoas pesquisadas, 61 já tentaram suicídio e 31 ainda possuem pensamentos suicidas.

Ambulatório DiaTrans

Endereço: Centro de Especialidades Quarteirão da Saúde (2º andar – sala 243). Avenida Antonio Piranga, 700 – Centro.

Grupo de Entrada: quarta-feira, das 13h às 19h.

Contato: 4043-8093 ou diatrans@diadema.sp.gov.br

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