Ayrton, Ayrton, Ayrton Senna do Brasil….

Domingo, 24 de Agosto de 1991, mais um domingo de F1 em Interlagos, a 2ª etapa do Mundial de F1 de 1991, Ayrton Senna, até então bicampeão mundial de F1, 27 vitórias na F1, assim como o escocês Jackie Stewart, tricampeão mundial de F1 (1969,1971,1973), vinha para disputar mais uma vez um Grande Prêmio diante do seu público, de sua torcida, após 7 tentativas frustradas de vencer correndo em casa.

Ayrton Senna venceu na abertura do campeonato, no dia 10 de Março, no Grande Prêmio dos EUA, nas ruas de Phoenix e vinha para Interlagos vencer enfim vencer diante de seus fãs.

Ayrton tinha completado 31 anos naquela quinta feira, mas não quis festa, nem comemoração, pois o presente que mais desejava era vencer um GP correndo em casa, pois já tinha sido campeão duas vezes, em 1988 e 1990, mas o mais importante para ele era vencer um Grande Prêmio correndo em casa.

No treino classificatório, Ayrton Senna deixou para sair bem no finalzinho para cravar aquela volta voadora e largar em 1°, para quem não era da época, ou não se lembra, os treinos classificatórios tinham duração de 1 hora e cada piloto dava até 12 voltas na pista.

Até o momento, o italiano Ricardo Patrese da Williams tinha a pole position, com 1:16:775, e nada do Ayrton sair dos boxes, nada de ele vir para a pista em busca de mais uma pole. A torcida ansiosa, impaciente e alvoroçada nas arquibancadas de Interlagos, até que o Chefe vem com sua McLaren Honda, motor V12 berrando forte pelas curvas e retas de Interlagos, o tempo de Patrese era o tempo a ser batido, e ao fechar a volta, Senna crava 1:16:393 e conquistava mais uma pole na F1, mais uma em Interlagos, lembrando que em 1990, ele também cravou a pole com 1:17:277.

A torcida enlouqueceu em Interlagos, veio a baixo, vibração nos boxes da McLaren, de seu chefe Ron Dennis, pois era Senna mais uma vez largando na posição de honra na F1, e de modo especial em casa, além da pole, era mais uma chance de vencer em casa e afastar o azar de correr no Brasil.

No domingo, no momento da largada, Senna largou bem e manteve a ponta, sendo seguido pelas Williams de Nigel Mansell e Ricardo Patrese.

Nigel Mansell vinha volta a volta buscando a liderança de Ayrton que vinha acelerando forte em busca de sua tão sonhada vitória em casa, porém, Mansell acaba cometendo um erro e rodando em sua própria afobação, abandonando a corrida na sequencia.

Senna estava a mais de 40 segundos a frente de Ricardo Patrese, tudo parecia que a tão sonhada vitória viria de forma fácil e sem maiores problemas, aí que o torcedor se enganou, pois se tinha Senna, tinha que ser com emoção em grandes doses.

Com o passar das voltas, a McLaren de Senna começou a apresentar problemas de câmbio, o que fazia Senna perder de 3 a 4 segundos por volta, Patrese com um carro melhor vinha pulverizando a diferença e se aproximando perigosamente de Senna.

Tensão em Interlagos, será que a tão sonhada 1ª vitória em casa iria escapar novamente e a festa adiada? Mas como Senna mesmo relatou ” Já tentei tantas vezes, ainda não venci no meu país. Eu sonhei tanto com este dia, e vai dar, vai ter que dar, vai ter que chegar em 1°, porque Deus é maior que tudo e vai me dar esta vitória”.

Mesmo com Patrese diminuindo volta a volta, Senna a 2 voltas do final, e com um esforço descomunal, diante de uma McLaren com problemas de câmbio, conseguiu fazer uma volta próxima ao tempo de Patrese, quando o comentarista Reginaldo Leme disse ” Esta foi uma volta muito importante, esta foi a volta que ele pode ter ganho a corrida.

A chuva vinha apertando, o público desesperado pedindo a Mihaly Hidasy, diretor de prova húngaro do GP Brasil, falecido aos 74 anos, em 02 de Agosto de 2013, que encerrasse logo a prova.

Após todo este esforço e com uma McLaren que tinha apenas a 6ª marcha, Ayrton Senna recebeu a tão sonhada bandeirada da vitória em Interlagos, diante de seu público, ele enfim era vencedor de um Grande Prêmio do Brasil, era o fim do jejum, o fim da maré de azar correndo em casa.

Podíamos ouvir na transmissão Galvão Bueno gritar ” Depois desta curva aponta Senna, vem pra reta, vai pra vitória, Mihaly Hidasy Ayrton Ayrton Ayrton Senna do Brasil. De ponta a ponta ele vence em Interlagos”, enquanto ouvíamos Senna em êxtase gritando no rádio ” AEEEEEEEEE EU CONSEGUIIIII EU NÃO ACREDITOOOOO AAAAAHH PUTAAAAA QUE PARIU”.

Era a vitória que ele tanto perseguia, tanto buscava, tanto sonhava que enfim chegou debaixo de chuva, uma de suas especialidades, dar show em pista molhada. Após a bandeirada na Reta Oposta de Interlagos, seu carro parou de vez.

Senna era atendido pelos comissários de pista que vibravam com a vitória de Senna, e pelo Dr Sid Watkins, enquanto a torcida no Setor G de Interlagos cantava ” E dá-lhe Senna E dá-lhe Senna Olê Olê Olê”.

Senna teve de voltar no Safety Car para os boxes, e ao chegar, encontrou Emerson Fittipaldi e seu pai, o Sr Milton da Silva, a quem se dirigiu e disse ” Vem cá pai, vem cá pai, vem cá! Só encosta, só encosta, me dá um beijo”!

No pódio, Senna era a imagem do cansaço, da luta, da dedicação e do empenho, mas acima de tudo, da superação, do homem que desafiou e superou os próprios limites do corpo e da máquina, pois tamanho foi o esforço para segurar o carro naquelas condições, debaixo de chuva, contra um Patrese com carro inteiro que vinha babando atrás de Senna.

Senna foi recebido por Bernie Ecclestone e trazia a bamdeira brasileira nas mãos, aquela que sempre o acompanhou por este mundo em todas as suas vitórias, desde 22 de Junho de 1986, no GP dos EUA, mas ruas de Detroit. Senna ergueu a bandeira no degrau mais alto do pódio, diante de um público em Interlagos que gritava ” É CAMPEÃO! É CAMPEÃO! É CAMPEÃO! e OLE OLE OLE OLA SENNA SENNA”

Ao receber o troféu de vencedor, ergueu com a mão direita, e mesmo com extrema dificuldade, conseguiu estourar o champanhe e comemorar sua tão sonhada vitória diante de seu público, era a 28ª vitória de Senna na F1, superando as 27 de Jackie Stewart, a 1ª em casa, a 2ª na temporada de 1991, que o fazia caminhar firme e forte rumo ao tricampeonato mundial daquele ano.

Foi assim que naquele 24 de Março de 1991, nosso eterno e inesquecível tricampeão mundial Ayrton Senna venceu pela 1ª vez diante de seu público em Interlagos.

Valeu Ayrton, você jamais sairá de Senna!!!

 

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19 comentários em “Senna faz o impossível em Interlagos”

  1. Fala maranello , como sempre, detalhes das corridas , excelente reportagem , para homenagear a quem sempre nos deu alegrias mas manhãs de domingo.

  2. Tratar-se-ia do maior da história acaso não fosse aquele primeiro de maio.
    Texto irretocável e arrebatador.
    Congratulações.

  3. Parabéns, Marcelo Marabello! Tua narrativa detalhada, me fez rever a corrida passar diante de meus olhos, agora marejados de emoção, é tudo que o leitor pode ter de melhor, do jornalismo automobilístico. Valeu!

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