A temporada de 2003 da F1 foi totalmente diferente da temporada anterior de 2002, quando o mundo viu um domínio absoluto da Ferrari, que venceu 15 das 17 provas do campeonato. Até o GP da Inglaterra, 11ª etapa do campeonato, 6 pilotos diferentes de 4 equipes diferentes já tinham vencido ao menos 1 corrida do campeonato mundial daquele ano, exceto Rubens Barrichello, que viu a vitória em Interlagos escapar por incompetência da equipe Ferrari.
Até então, tínhamos tido como vencedores os pilotos: David Coulthard (McLaren), no GP da Austrália, Kimi Räikkönen (McLaren), no GP da Malásia, Giancarlo Fisichella (Jordan), no GP do Brasil, Michael Schumacher (Ferrari), nos GPs de San Marino, Espanha, Áustria, e Canadá, Juan Pablo Montoya (Williams), no GP de Mônaco e Ralf Schumacher (Williams), nos GPs da Europa, em Nürburgring e GP da França, em Magny Cours.
Duas semanas após o GP da França, veio o GP da Inglaterra, no tradicional e histórico circuito de Silverstone, onde a F1 nasceu e teve sua prova inaugural em 13 de Maio de 1950, com um pódio triplo da equipe Alfa Romeo, com o italiano Giuseppe Farina em 1º, o também italiano Luiggi Faggioli em 2º e o piloto da casa, o inglês Reg Parnel em 3º.
O treino classificatório para 2003 tinha sido totalmente alterado, para 1 volta apenas para cada piloto, para que o piloto pudesse ter pista livre e não atrapalhasse nenhum concorrente. O piloto dava a volta de saída dos boxes, a volta rápida valendo tempo e por fim, a volta de desaceleração e retorno aos boxes. A ordem no treino classificatório era o tempo dos treinos livres de sexta feira, os mais lentos vinham primeiro para a pista, enquanto os mais rápidos vinham para fechar a sessão de qualificação.
Rubens Barrichello teve uma sexta feira muito ruim, sendo o penúltimo no final do dia, ficando apenas à frente do piloto inglês o já saudoso Justin Wilson, que era piloto da Minardi, o que fez Rubinho ser o 2º a ir para a pista tentar sua volta rápida no treino classificatório do sábado. Após a volta de Wilson, Rubens Barrichello cravou o tempo de 1:21:209 e ficou aguardando os concorrentes mais fortes irem para a pista. Ao final do treino, seu companheiro de equipe, o alemão Michael Schumacher, cometeu um erro e conseguiu apenas o 5º lugar no grid, ao lado do estreante, o mineiro Cristiano da Matta, da Toyota, que largou na 6ª posição.
No domingo, manhã de domingo no Brasil, tarde de domingo na Inglaterra, largada para o Grande Prêmio da Inglaterra, a Renault que tinha um sistema de largada imbatível, pulou com Jarno Trulli na ponta, e Rubens Barrichello preocupado com Trulli, acabou perdendo também o 2º lugar para Kimi Räikkönen e partiu para uma corrida de recuperação, pois tinha carro bom o bastante para lutar pela vitória, porém no meio da prova acontece o inesperável, o imponderável, o que ninguém poderia imaginar ou acreditar.
A pista de Silverstone, na reta do Hangar, foi invadida por um fanático religioso com trajes escoceses, se tratava do padre irlandês, que em 2004, no domingo de 29 de Agosto, veio atrapalhar a maratona no último dia dos Jogos Olímpicos de Atenas, e prejudicou o maratonista brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lime. O manifestante foi rapidamente contido pelos seguranças e fiscais de pistas, retirado da pista.
Safety Car na pista e como Rubens Barrichello, que estava à frente de Schumacher na corrida, entrou primeiro nos boxes, enquanto o alemão teve de esperar o atendimento da Ferrari ao brasileiro. Rubens voltou em 8º, enquanto Schumacher apenas em 14º, O mais incrível era vermos as duas Toyotas no momento fazendo P1 com Cristiano da Matta e P2 com o francês Olivier Panis.
Apesar de ter voltado no meio do pelotão, Rubens Barrichello estava com a faca nos dentes, decidido a vencer aquela prova e vencer pela 1ª vez em 2003, com ousadas ultrapassagens sobre Ralf Schumacher, Jarno Trulli, foi para a última parada na liderança da prova. Entrou nos boxes e sua parada levou 8.4 segundos, lembrando que naquela época existia o reabastecimento, além da troca de pneus. Rubens volta em 2º atrás de Kimi, a 21 voltas do final, mas quem iria parar o brasileiro naquele domingo que ele acordou em estado de graça?
Após um ritmo forte e alucinante, Rubinho partiu para cima de Kimi, botou por fora na saída da reta, entrou colado na antiga curva Bridge, deu um X, mergulhou por dentro e fez a ultrapassagem, Räikkönnen ao tentar evitar a ultrapassagem, cometeu um erro, botando as rodas na terra, perdendo também o 2º lugar para o colombiano Juan Pablo Montoya, da Williams. Rubens Barrichello, contorna a Woodcot, antiga curva da vitória em Silverstone, saudado pelo público inglês em pé presente nas arquibancadas.
Dali em diante foi só administrar a vantagem na liderança, negociando as ultrapassagens em cima dos retardatários, entre eles, o inglês Ralf Firman, da Jordan, na volta final. A única preocupação foi a quebra do carro da Renault de Fernando Alonso bem na reta dos boxes, mas como o carro estava colado ao pit wall, ele facilmente pode ser retirado para dentro dos boxes, sem a necessidade da intervenção do Safety Car, e a prova pôde seguir normalmente em seu estágio final.
Volta final, faltando apenas 5141 metros para a vitória, vimos o canadense Jacques Villeneuve saindo da pista com sua BAR, e Rubens guiando com maestria cruzou a linha de chegada em 1º pela 1ª vez em 2003 e pela 6ª vez na carreira, que o igualava em número de vitórias com o saudoso ex piloto da Ferrari, o canadense Gilles Villeneuve, falecido em Zolder, na Bélgica, em 08/05/1982.
Outro piloto que merece todo destaque na prova foi o mineiro Cristiano da Matta, que liderou o GP da Inglaterra, segurando Räikkönen, que vinha de McLaren, e ao final, da Matta terminou a prova em 7º, com o inglês Jenson Button com uma BAR colado nele em 8º. Já o alemão Michael Schumacher, que zombou de seu companheiro de equipe na sexta feira, teve que se contentar com o 4º lugar da prova.
Aquela vitória de Rubens não foi apenas aquela que para muitos, foi sua maior vitória na F1, mas um cala a boca em Schumacher que riu dele no momento em que ele errou na sexta feira, e cometeu a canalhice de dizer que Rubens nunca o ajudou em nada na F1, lembrando que ele chegou à frente de Montoya e Räikkönnen, adversários diretos de Schumacher na disputa pelo título. Rubens se mostrou bastante emocionado no pódio, como uma espécie de desabafo depois de tudo que a equipe e Schumacher já tinham feito com ele.
Em 2000, no dia em que o Brasil completou 500 anos, Rubens conquistava em Silverstone sua primeira pole position como piloto Ferrari, com 1:25:706, e 3 anos depois uma maiúscula e consagradora na casa da McLaren e da Williams, vitória que veio na hora certa para calar aqueles que sempre foram perversos e injustos com ele.
Novamente surpreso com a riqueza de detalhes de uma atuação heróica de nosso querido Barrichello, você é o cara meu irmão.
Excelente matéria meu amigo, parabéns!
Como sempre, matéria de excelente qualidade, com uma pessoa simplesmente espetacular!
Materia no capricho
Brilhante matéria de Marcelo Maranello, dando o devido valor ao não menos Brilhante, Rubens Barrichello, o nosso querido Rubinho. Parabéns ao JWNEWS, por este caderno de automobilismo, muito bem escrito e elaborado.