Projeto teve pontapé no Pátio Guido Caloi, da Linha 5-Lilás de metrô, com 20 participantes, que poderão integrar a mão de obra de ambas as concessionárias

Em meio a um setor formado predominantemente por homens, 20 mulheres iniciaram o sonho e o desejo de mudar essa realidade no segmento da construção civil, por meio do projeto Mulheres em Construção. A capacitação teve o seu primeiro dia no Pátio Guido Caloi, da Linha 5-Lilás, fruto de parceria entre a ONG Mulher em Construção e as concessionárias ViaQuatro (Linha 4-Amarela) e ViaMobilidade (Linha 5-Lilás).

O pontapé no curso de capacitação ocorre após o processo de inscrição realizado em janeiro deste ano. A formação visa a inclusão de mulheres em situação de vulnerabilidade social no segmento. Segundo a ONG Mulher em Construção, apenas 10% da mão-de-obra no setor é feminina no Brasil, com indícios de crescimento de investimento e contratações nos últimos três anos.

O sonho de trabalhar na área da construção civil supera até a barreira de um oceano, como é a história de Delfina Nzachi Hombalula, 32 anos, que atravessou o Atlântico a fim de sair de Luanda, capital de Angola, percorrendo 6,5 mil quilômetros até chegar a São Paulo, grávida de cinco meses da Mariana – atualmente com nove meses de idade -, ao lado do filho Emanuel, hoje com três anos. Na bagagem, veio o sonho de ter uma nova vida no Brasil.

Formada em curso de eletricidade em Angola, Delfina sofreu com as poucas oportunidades em sua terra natal, uma vida que espera ser diferente, a partir de agora, para si mesma e aos seus filhos. “Tinha salão de beleza, mas sofri um assalto na minha casa e levaram todas as minhas coisas. E pensei que não poderia mais viver em Angola, porque a situação social do país é muito difícil. E aqui no Brasil, achei um país acolhedor, onde meus filhos vão estudar, a minha filha é brasileira e aqui vou viver para sempre. E se aparecer mais curso, vou fazer”, diz.

Delfina veio da África em busca de oportunidades e uma vida melhor aos dois filhos.  Crédito: Bruno Coelho
Delfina veio da África em busca de oportunidades e uma vida melhor aos dois filhos. Crédito: Bruno Coelho

Delfina sonha em trabalhar na mesma área que também deseja Diomere Bispo da Silva, 57, residente no Jardim São Bernardo, região do Grajaú (zona Sul de São Paulo). Ela soube da oportunidade por meio de sua filha, Thalya, que trabalha na ViaQuatro, operadora da Linha 4-Amarela de metrô. “Trabalhava na área de limpeza por mais de 20 anos. Hoje, quero trabalhar na Construção Civil, para arrumar um emprego melhor e arrumar a minha casa, que está precisando. E acima de tudo, precisamos aprender. E temos que ter fé que vamos conseguir”, destaca.

Os números mais recentes do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) apontam que, sozinho, o setor de construção contratou 2.180.065 de pessoas no acumulado de janeiro a novembro de 2023, sendo que o saldo líquido entre admissões e demissões é de 235.975 pessoas (o equivalente a 9,5% de diferença).

Esse porcentual é o maior entre todos os setores da pesquisa, o que indica que o setor de construção está mais contratando gente do que demitindo quando comparado a outros setores da economia. Por isso, a capacitação para essas mulheres se torna essencial para contribuir com suas chances de entrar no mercado de trabalho.

O projeto será realizado até 14 de março, com um total de 144 horas de curso. Toda capacitação será promovida pela equipe técnica do Mulher em Construção nas dependências do Pátio Guido Caloi, na zona sul de São Paulo. Ao fim do curso, as alunas vão receber um diploma e contarão com suporte para localizar vagas de trabalho, com possibilidade de pertencer aos quadros de funcionários da ViaQuatro e ViaMobilidade.

“Investimos na formação de turmas afirmativas, 100% femininas, como uma maneira de capacitar mais mulheres para atuarem em diferentes segmentos da operação. Além dessa nova parceria para o segmento de construção civil, trabalhamos com turmas afirmativas para as áreas de tráfego e atendimento e segurança. Recentemente, 23 mulheres começaram a atuar como Agentes de Atendimento e Segurança na Linha 5 – Lilás, após quatro meses de extenso treinamento”, explica Natália Gouveia, analista de Gente e Gestão do Grupo CCR.

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