Encontro reuniu LGBT+ e setores do governo para pensar propostas nas esferas municipal, estadual e nacional

No último sábado (15), a Coordenadoria de Políticas de Cidadania e Diversidades (CPOCD), ligada à Secretaria de Governo, e a sociedade civil organizada LGBT+ realizaram em conjunto a II Conferência LGBT+ de Diadema, na Câmara Municipal.

 

No encontro, cerca de 80 pessoas discutiram e debateram propostas de políticas públicas para a população LGBT+ que serão enviadas às esferas municipal, estadual e nacional – além de também elegerem 12 delegados que representarão a cidade na etapa estadual da Conferência, em 2025.

“A primeira conferência ocorreu em 2008 e desde então não conseguimos nos organizar para realizar a segunda, o que foi um retrocesso,” apontou Robson de Carvalho, coordenador da CPOCD. “Ainda que tenhamos passado por governos que não tinham tanto apreço pela política LGBT, é importante que o movimento social não se cale, como nos calamos nesse período, e faça essa cobrança, sempre. Na esfera federal, por exemplo, tivemos um governo desastroso, no estado também, estamos vendo vários erros… mas agora voltamos. E voltamos para ficar.”

O secretário de Governo Mário Realli, que já foi prefeito de Diadema, destacou a importância da conferência como um momento de discutir e construir as políticas de uma maneira coletiva. “Temos o prefeito Filippi aqui, o presidente Lula na presidência, que estimula as conferências, vamos aproveitar para garantir a igualdade de direitos, a liberdade e a diversidade, criando política pública a partir dos problemas que vivemos no dia a dia. A política dessa gestão é uma política afirmativa e transversal, que ouve a sociedade civil, e é importante ter respostas concretas, como o ambulatório, o respeito à diversidade nas escolas e tantas ações que a coordenadoria tem levado adiante.”

A vice-prefeita Patty Ferreira também prestigiou o evento e mostrou-se empolgada com o retorno da conferência. “A gente sabe da luta, da importância, do momento de levantar a bandeira mesmo, que tem que ser todo o tempo, para que a gente possa se sentir contemplado, reconhecido e que as políticas públicas possam alcançar a todos,” disse ela, saudando o público.

Com a presença da vice-prefeita, a coordenadoria lançou o Manual de Qualificação do Atendimento LGBTI+ nos Serviços em Diadema, um guia para os servidores públicos sobre como atender com qualidade esta população. “Porque não é o serviço que é homofóbico ou preconceituoso, as pessoas é que são. Por isso devemos trabalhar com as pessoas para superar isso,” resumiu Patty.

“Hoje é um dia de debate, de construção e de resistência, mas, principalmente, de novas conquistas,” pontuou a presidente da ong Viva a Diversidade, Lélia Batista, dando início à atividade.

Um dia cheio de atividades

O dia começou cedo, com um café da manhã ao som da banda Impávidos, cuja vocalista Gabi Vieira, não-binárie, ressaltou a importância de reconhecer e apoiar artistas LGBT+, principalmente os locais.

Em seguida veio a drag queen Lohren Beauty, com uma interpretação carregada de sentimentos da música “Belíssima”, de Vanessa Barum. “Quando eu era apenas adolescente e deprimida por achar que nunca ninguém ia gostar de mim sendo gay, minha madrinha me mostrava essa música dizendo que não importa o que os outros achavam, eu seria sempre belíssima. Ela faleceu há 3 meses e hoje essa música é pra ela,” contou Lohren, emocionando a todos.

O advogado Paulo Mariante, de Campinas, liderança do movimento LGBT nacional, foi quem abriu os trabalhos com uma palestra magna na qual fez um resgate das conquistas e desafios do movimento no Brasil, desde os anos 70, passando pelos primeiros governos Lula e a desarticulação sofrida após o golpe contra a presidenta Dilma. “Mesmo durante o governo Dilma, era grande a pressão da bancada evangélica que acabou sufocando o programa Brasil Sem Homofobia,” lembrou o advogado. “E pra mim é um marco estar em Diadema, uma cidade com amplo histórico de movimentos sociais, um exemplo de luta popular para quem constrói políticas públicas. Nossa luta vem de longe, sempre houve resistência à opressão. E é importante lembrar: Ser fora do padrão da heteronormatividade branca já é ser resistência.”

Estimulados, os participantes dividiram-se em grupos para tratar dos temas da conferência, divulgados antecipadamente.

Stefan Wowczuk, 24, participava de uma atividade LGBT pela primeira vez, pois acabara de procurar o Ambulatório DiaTrans para se entender melhor como homem trans. “Foi um primeiro passo para me libertar e saber quem eu sou,” explicou. Morador do Campanário, Stefan escolheu o grupo 1, que tratava da violência LGBTfóbica. “A violência é algo que não afeta só os LGBT+, mas também a mulher, a criança, e, infelizmente, ainda é algo muito comum. O Brasil não precisava ter 270 mortes de LGBT por ano para as pessoas começarem a perceber que algo está errado. E a gente não se sente acolhido. Aqui em Diadema a acolhida a pessoas trans é muito melhor que em outras cidades, como São Paulo, mas a violência ainda é algo que precisamos eliminar.”

Já a drag queen Dina Boom Vith, do Serraria, escolheu o grupo 2, de Empregabilidade para LGBT+. “Existe ainda uma resistência no mercado de trabalho com relação a empregar LGBT+, principalmente em setores para além de maquiagem, cabeleireiro etc,” afirmou. “Não é fácil achar uma vaga em uma empresa que tenha um olhar sensível para essa questão e, uma vez lá dentro, é difícil se manter em uma empresa sem sofrer preconceito. Então vim aqui ouvir o que os outros pensam e ajudar a construir alguma proposta.”

A escritora Janaína Leslão, 46, acompanhada do filho Lorenzo, 11, participaram do grupo 3, que tratou da transversalidade das políticas LGBT+. “Quando falamos de preconceitos, a gente tem que falar de classe, de raça, de gênero, de orientação sexual… E também temos que abordar questões na Saúde, na Cultura, na Educação. Ou seja, é preciso olhar o todo,” afirmou. Ela, que é lésbica e servidora pública da Saúde, acredita que é preciso que a Prefeitura faça um mapeamento de quantos servidores LGBT+ trabalham no município para que, aprendendo a conhecer essa população, o governo consiga implementar políticas públicas para todos, todas e todes.”

Participando do último grupo, que discutiu a institucionalização das políticas LGBT+, Marcelo Morais, 31, acredita que só dessa forma teremos essas políticas realmente acontecendo. “Discutimos a ampliação dos recursos da Coordenadoria, com um orçamento específico,” argumentou ele, que trabalha atualmente na secretaria de Governo, além de ser secretário estadual de políticas LGBT do Partido dos Trabalhadores (PT). “Minhas propostas envolvem justamente essa questão do orçamento da CPOCD, mas também uma ampliação para toda a cidade dos serviços de fornecimento de PEP e PrEP (profilaxias pós e pré exposição) para a população LGBT+, nas 20 ubs da cidade.”

“Essa é a importância de uma Conferência Municipal LGBT+,” apontou o advogado Paulo Mariante. “Ela tem a presença de pessoas interessadas na questão LGBT, que vivem o assunto e podem contribuir com muito mais assertividade na proposição de políticas públicas, e ela gira em torno daquilo que o município pode fazer para que esta discussão se converta em política pública. Ou seja, é um espaço de falar de nossos anseios, nossas dores, mas que não fique só no falar, que se transforma na prática em algo que ajude a mudar a vida das pessoas para melhor.”

A Conferência terminou com um show de dança da drag Dina e a eleição de 8 delegados da sociedade civil (4 titulares e 4 suplentes) e 4 do governo (2 titulares e 2 suplentes) para representarem a cidade na etapa estadual da Conferência LGBT+, ainda sem data prevista.

“Só o fato de voltarmos ao processo de conferência depois de 16 anos, já é um sucesso,” concluiu Robson de Carvalho. “Mas as propostas foram realmente bem pensadas e tocaram em pontos importantes para a comunidade LGBT+, como a divulgação de mais dados sobre violência, sensibilização de empresas, educadores e servidores, editais para futuros concursos públicos que cobrem respeito aos LGBTs em seu material de estudo, mais recursos para a coordenadoria e até a criação de um plano decenal LGBT+. Assim que formatarmos todas as propostas, publicaremos e as enviaremos aos poderes públicos municipais, para que possam ser avaliadas quanto à sua implementação. Elas também serão enviadas à Conferência Estadual, para que sejam votadas rumo à Nacional.”

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