Diretor de provas da primeira corrida disputada no circuito, jornalista e fundador de escola de kart, Fernando Campos dá nome à sala de imprensa do traçado goiano, que completa 50 anos domingo
Se hoje Goiânia pode se orgulhar por ter um autódromo internacional, que é exemplo de segurança e estrutura, muito desse legado se deve a apaixonados e entusiastas que há mais de meio século idealizaram a construção de um espaço dedicado às competições do automobilismo e motociclismo. Um dos principais personagens dessa história é o jornalista Fernando Campos, referência regional e nacional na profissão. Atualmente, aos 84 anos de idade, ele se orgulha que o projeto que ajudou a acalentar tornou-se uma das principais praças esportivas do Brasil, já recebeu o Mundial de Motovelocidade em três oportunidades (de 1987 a 1989) e completa 50 anos de inauguração neste domingo, 28 de julho, na disputa do GP Chevrolet Stock Car, sexta etapa da temporada 2024.
Nascido em maio de 1940 em Coimbra, Portugal, Fernando Campos veio com sua família para o Brasil em 1953, desembarcando primeiramente em São Paulo, mas oito anos depois veio a mudança em definitivo para Goiânia. Jornalista por influência da mãe, Campos uniu a profissão à paixão e começou a escrever notas e colunas sobre automobilismo no jornal O Popular, convertendo-se rapidamente em importante tribuna e elemento fundamental na popularização do esporte a motor na capital e no estado de Goiás como um todo.
Fundador do programa Rodas&Motores, que está na televisão e no rádio há mais de três décadas, Fernando tem uma história de amor pelo esporte e por Goiânia. Com 54 anos dedicados ao jornalismo, Campos recorda com carinho o período que antecedeu a construção do autódromo no Planalto Central.
“Houve um crescimento decisivo dos esportes a motor regionais. Lembre-se que estávamos em 1974, e um pouco antes disso já havia um automobilismo desenvolvido e bem instituído em Brasília. Embora não tanto como em Brasília, também tínhamos um esporte a motor bom naquela época, não apenas no automobilismo, mas também no motociclismo: éramos muito fortes na preparação e nas corridas de lambretas. Então, com o esporte em franco desenvolvimento no Centro-Oeste e estando a 200 km de Brasília, faria todo o sentido ter um autódromo em Goiânia”, explica.
O jornalista destaca outro fator importante para incentivar Goiânia a ter um autódromo. “Sem dúvida, foram os títulos de Emerson Fittipaldi na Fórmula 1, em 1972 e 1974. Todos queriam ser Emerson Fittipaldi. Foi a mola propulsora que fez multiplicar o desejo das cidades em ter autódromos. E foi por conta disso que ele foi convidado para inaugurar a pedra fundamental do Autódromo de Goiânia, no início de 1972.”
Até antes da existência do autódromo goiano, as corridas na cidade aconteciam nas ruas, sobretudo em razão do aniversário da capital, em 24 de outubro, nas mais variedades modalidades, muito além dos karts e dos carros habituais. “Tinha corrida de tudo: até de triciclos, lambretas, motocicletas…”, relembra Campos. “E o interesse por um autódromo foi crescendo”.
Fernando Campos fala com reverência de alguém que considera fundamental para que o Autódromo de Goiânia saísse do papel para virar realidade. “Tudo aconteceu depois que o Leonino Caiado foi nomeado governador. Goiânia era uma cidade muito jovem e, naquele período, quase não havia diversão para a população. Leonino entendeu isso e resolveu construir três insumos esportivos: o Estádio Serra Dourada, o Ginásio Rio Vermelho — hoje centro de excelência dos esportes aqui em Goiás — e o Autódromo de Goiânia”, destaca.
Fernando se orgulha de também ter contribuído de forma importante para a concretização do sonho de muitos goianos. “A minha maior participação em meio a tudo isso foi justamente pelo meu jornalismo. Nunca deixei de fazer jornalismo. Em 2023, completei 54 anos de carreira, e isso significa alguma coisa, claro. Tenho o orgulho de ajudar a tornar o automobilismo e o esporte a motor, de forma geral, mais popular graças ao jornalismo”, comenta.
Muito além do trabalho nas redações e nas pistas do Brasil, Fernando Campos se envolveu diretamente com o universo das competições. Com o aprendizado adquirido nas suas idas a Interlagos, fundou a primeira equipe de cronometragem de Goiânia e criou, ao lado do também jornalista e advogado Luiz Fernando Rocha Lima — presidente da Federação Goiana de Automobilismo à época — uma escola de kart. “Essa escola formou centenas de pilotos”, relembra Campos.
50 anos de história — Uma trajetória tão rica e importante como a do hoje batizado como Autódromo Internacional de Goiânia Ayrton Senna traz muitos momentos marcantes e inesquecíveis. Alguns deles foram considerados decisivos por Fernando Campos.
O começo de tudo: “Tenho de valorizar a própria inauguração do autódromo. O Luiz Fernando Rocha Lima defendia que a ocasião deveria ser um grande festival de corridas. E foi maravilhoso, lindo, com mais de 60 mil pessoas. A primeira corrida, as 12 Horas de Goiânia, teve a mim como diretor de prova, nomeado pelo Luiz Fernando a apenas cinco dias da prova. Encarei de frente.”
Superação da crise: “Aquelas 12 Horas de Goiânia correram o risco de não acontecer por conta da crise do petróleo. Goiânia foi palco de todas as discussões a respeito do que seria o esporte a motor brasileiro em razão dos efeitos daquela situação. Acredito que todos os pilotos se recordam do drama que foi, do risco de estar tudo pronto para correr e não ter a largada. Foi dramático e, de certa forma, inesquecível. Mas largamos e seguimos adiante”.
“Explosão de liberdade” com Mundial: “Foi a primeira vez que percebemos o que é um evento tão grande como foi com o Mundial de Motociclismo, com as três categorias na pista. A população recebeu muito bem o evento e abraçou o Mundial. A Praça Tamandaré, que já era um ponto de reunião da moçada, virou um frenesi. Todo mundo foi lá para andar de motocicleta. Foi uma explosão de alegria e de liberdade em uma cidade realmente jovem”.
Renovar é preciso: “Na década de 2010, o governo da época percebeu a necessidade de modernizar e atualizar as estruturas do autódromo. Se essa reforma não tivesse acontecido, não haveria o padrão de qualidade em todos os níveis, tanto esportivo como o promocional. O esporte a motor mudou muito desde a inauguração do autódromo. E a Vicar se posicionou e alertou que, se os autódromos não se atualizassem, não receberiam mais corridas. O governo se mexeu e investiu muito para mudar a estrutura do autódromo, construir novos boxes, uma nova entrada para os boxes, bases importantes de cronometragem, restaurante e uma sala de imprensa grande, muito melhor, com toda a estrutura necessária. E tive a honra de ser homenageado e ter meu nome designado para batizar a sala de imprensa do autódromo. Sem essa tão importante reforma, não estaríamos falando do nosso autódromo como ele é hoje”.
Pessoas assim é que deveriam ter documentarios e biografias feitas com dinheiro de programas do governo para “cultura”.
Temos “300” exemplos só no Esporte Motor, desde o automodelismo ( autorama ) até a Copa Truck ( 6 rodas ), seja no asfalto, terra, água ou ar ( acho que nunca teve no Brasil competição aérea tipo Red Bull Race ).
Só nos resta ter estas pessoas como reflexo no espelho ou na roda polida ou na tampa de válvulas cromada.
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