Disco Julieta no Convés traz as participações especiais do músico, compositor e ensaísta Zé Miguel Wisnik, do maestro, clarinetista e saxofonista Nailor Proveta e do maestro e pianista Cristovão Bastos e estará disponível em edição física e digital no dia 13 de setembro

Julieta no Convés é o mais recente álbum do compositor Guinga ao lado da cantora e compositora Anna Paes. Gravado em fevereiro de 2024, o disco que tem lançamento pela produtora e gravadora Kuarup marcado para o dia 13 de setembro em edição física e nas plataformas musicais, apresenta um repertório quase todo inédito de canções de Guinga com oito parceiros. Com produção artística de Paulo Aragão, o trabalho traz arranjos de Guinga para violão e voz e conta com as participações de Zé Miguel Wisnik (arranjo, piano e voz), Nailor Proveta (arranjo, clarinete e saxofones) e Cristovão Bastos (arranjo e piano). O álbum foi gravado em três estúdios. Em São Paulo, no Estúdio Space Blues, foi gravada a faixa Noite Sobre Noite com o engenheiro de som Alexandre Fontanetti. As demais faixas foram gravadas no Estúdio Dançapé, com o engenheiro de som Mário Gil. A exceção foi a faixa Borboleta de Louça, gravada no Rio de Janeiro, no Estúdio Lontra, com o engenheiro de som João Ferraz. A arte da capa foi criada por Mello Menezes, amigo de longa data de Guinga, assim como de Aldir Blanc. Um dos maiores artistas plásticos do país, com um traço inconfundível, Mello Menezes assina a arte da capa de inúmeros artistas. Dois dos primeiros álbuns de Guinga: Simples e Absurdo e Delírio Carioca foram feitos por ele.

O bonde de Santa Teresa é um dos temas preferidos de Mello Menezes por ser um dos ícones do bairro onde reside. A partir da faixa-título do álbum, que traz na sua letra o cenário de um barco em alto mar — Um tempo em espirais afasta a embarcação / já é tão longe o cais / prenúncio da paixão / (….) / Se há uma voz na escuridão / será Julieta no convés (…) — Guinga sugeriu a ideia de utilizar a imagem do bonde nos trilhos de Santa Teresa, de uma coleção de ilustrações de Mello pré-existentes e substituir o trilho pela imagem de um mar, fotografado por Rodrigo Lopes, trazendo uma imagem surrealista de um bonde-barco em alto mar, com elementos da cultura brasileira espalhados ao vento, assim como o som das canções do álbum (letra e música), que carregam e espalham identidades brasileiras. Aquiles Rique Reis, autor do texto de apresentação, é cantor, integrante do MPB-4, primeiro grupo a fazer um registro de uma obra de Guinga, além de ser crítico musical, autor de uma coluna que dá destaque à música popular brasileira de qualidade. A foto dos artistas no encarte é do músico e fotógrafo Kevin Seddiki, após um concerto de Guinga e Anna Paes na Embaixada do Brasil em Paris, em 2018.

A produção do álbum é de Paulo Aragão, amigo de longa data de Guinga e Anna Paes, exímio violonista, produtor e arranjador, líder do Quarteto Maogani e especialista na obra de Guinga. Produziu dois de seus álbuns: Avenida Atlântica Guinga e Quarteto Carlos Gomes e A Ver Navios – Guinga e Francis Hime. Participou da equipe de editoração de três dos seus álbuns de partituras: A Música de Guinga, Noturno Copacabana e Zaboio. O projeto foi aprovado com o título Cancioneiro Guinga – Inéditas, no edital ProAC 16/2023 tendo Vivien Miwa Kozuma e Anna Paes como produtoras executivas.

 

Texto do cantor, músico e jornalista Aquiles Reis

Este Julieta no Convés é um trabalho devotado à música. Nele, Guinga e Anna Paes iluminam o sincretismo da religiosidade brasileira, louvam os subúrbios cariocas e tecem uma teia afetiva entre a voz da cantora e o violão do compositor. A voz feminina se revela análoga ao som do violão e, univitelinos, completam-se, contemplam-se e vão, sempre em êxtase sensorial. A voz afinada de Anna se posta diante do espelho e reflete um Guinga magistral, imprevisível, pronto para levar o ouvinte à fricção de sensações instigantes: suas introduções, melodias, harmonias e voz são estradas sinuosas que se movem por entre curvas e descidas, retas e subidas, percorridas pelo violão que faz parte de seu corpo. Ao se encontrarem neste álbum, Anna Paes e Guinga tornaram-se definitivos pela capacidade de extrair beleza da voz humana, agregada às cordas do violão, formando uma dupla arrebatadora. Ouvir Julieta no Convés faz bem à alma.

 

Faixa a faixa

  1. Lundu da Saudade (Guinga e Afonso Machado) – Voz: Guinga e Anna Paes. Violão e arranjo: Guinga. Guinga compôs o Lundu da Saudade como uma homenagem à sua mãe, D. Inalda. Afonso Machado se motivou para escrever a letra a partir desta inspiração e também a partir de uma foto feita pela sua nora, da mão dela entrelaçada com a de sua avó. Lundu da Saudade é uma canção afetiva, que retrata a imagem de um passarinho mensageiro que vai trazer notícias sobre os questionamentos existencialistas que habitam o nosso cotidiano, nos ajudando a aprender a lidar com a saudade: “Se o meu destino é por um fio, voa sabiá na volta diz o que será….” A canção também homenageia Nelson Cavaquinho no verso “… vem me contar nesta canção se mato ou morro, se é de flor ou é de espinho”.

 

  1. Noite sobre Noite (Guinga e Zé Miguel Wisnik) – Voz: Zé Miguel Wisnik e Anna Paes. Piano e arranjo: Zé Miguel Wisnik. Este tema foi gravado instrumentalmente por Guinga e Quarteto Carlos Gomes no álbum Avenida Atlântica com o título Tom e Vinicius, uma evocação às canções de amor da parceria Tom Jobim e Vinícius de Moraes, mas também traz uma inspiração “villalobiana”, tão recorrente na obra de Guinga. Com letra de Zé Miguel Wisnik a canção ganhou o título de Noite Sobre Noite e fala da história de amor de um casal que envolve, ao mesmo tempo, angústia e prazer, em conversas pelo telefone, onde a voz, como meio de comunicação à distância, tem papel fundamental. Zé Miguel concebeu o arranjo em dueto com Anna Paes e preferiu gravar se acompanhando ao mesmo tempo, de forma a ganhar maior fluência interpretativa. A primeira foi Canção Necessária, no álbum Você Você – Anna Paes canta Guinga (Kuarup, 2022).

 

  1. Suçuarana (Guinga e Paulo César Pinheiro) – Voz: Guinga. Violão e arranjo: Guinga. A primeira gravação feita desta toada foi a da cantora Cristina Santos, ainda nos anos 1980, quando foi composta. A temática da sedução e do mistério traz como pano de fundo a floresta e compara a figura de uma mulher a elementos da natureza como à onça suçuarana, a “abelha africana”, “taturana” etc. Esta é a segunda gravação e a primeira feita pelo autor.

 

  1. Egrégora (Guinga e Anna Paes) – Voz: Guinga. Violão e arranjo: Guing\a. Toada composta durante à pandemia, inspirada em uma tela do grande artista plástico Elifas Andreato, como parte do projeto Brasil ao Natural, com curadoria de Socorro Lira. A gravação inicial para a coletânea foi feita na voz de Anna Paes com acompanhamento de Guinga. Aqui a faixa é gravada por Guinga. Em meio ao momento trágico e dramático que o mundo todo atravessou durante a pandemia, a letra evoca espiritualidade e religiosidade como caminhos de cura.

 

  1. Borboleta de Louça (música de Paulinho da Viola e Mário Séve; letra de Guinga) – Voz: Anna Paes. Piano e arranjo: Cristovão Bastos. A inspiração da letra dessa valsa composta por Guinga veio das suas caminhadas rotineiras ao subúrbio do Valqueire e Sulacap, no Rio de Janeiro, e da lembrança afetiva de uma peça de decoração que sua mãe gostava – borboletas de louça – que era comum serem fixadas nas paredes das varandas das casas. A letra inicia homenageando sua mãe, sua referência-matriz como compositor de canções. Sendo a música do flautista e saxofonista Mário Seve, querido amigo de Guinga, e de Paulinho da Viola, Guinga homenageia as afinidades suburbanas entre ele e Paulinho da Viola / cruzarás céus da Fontinha …. / tambores, jongos da Serrinha, uma águia deslumbrante e bela (símbolo da Portela) vai incendiar seus carnavais / rua Albano, Estrela Dalva (Dalva de Oliveira) / será que coincidentemente andamos lado a lado? / será que o sinal está fechado? (Clássico da obra de Paulinho da Viola). Outra afinidade suburbana é com Cristóvão Bastos, acompanhador e arranjador desta faixa, um dos principais pianistas e arranjadores do país, nascido e criado em Marechal Hermes, antigo amigo de Guinga e integrante do grupo que acompanha Paulinho da Viola, , assim como o compositor, flautista e saxofonista Mário Séve.

 

  1. Mar de Rosa (vinheta) (Guinga e Aldir Blanc) – Voz: Guinga. Violão e arranjo: Guinga. Toada inédita da parceria Guinga e Aldir Blanc composta nos anos 1990. Fala do orgulho da identidade suburbana de Guinga. / Ai, adeus, flor do Valqueire, vou voltar na madrugada (…). Aqui ela aparece como uma vinheta pois, infelizmente, o restante da letra se perdeu.

 

  1. Esconderijo (Guinga) – Voz: Guinga. Violão e arranjo: Guinga. Esconderijo é um retrato contemporâneo do conflito entre a milícia e o tráfico no Rio de Janeiro, mas por outro lado, é uma homenagem a dois amigos de Guinga nascidos na zona oeste, Waguinho e Zóinho.

 

  1. Tia Damiana (Guinga e Thiago Amud) – Voz: Anna Paes. Violão e arranjo: Guinga. Tia Damiana é uma evocação às tias baianas que contribuíram para o surgimento do samba, “avó de Dona Ivone (Lara) e mãe da Clementina de Jesus”. Homenageia, além delas, os baluartes Pixinguinha, Donga e João da Baiana”. Fala de uma mulher que tem orgulho da sua ancestralidade africana, mas também traz uma crítica à indústria do samba “… só que eu não tenho dinheiro, não vou entrar no Terreirão do Samba”. Anna Paes gravou no álbum Você Você – Anna Paes Canta Guinga, a canção Avenida Atlântica, outra parceria da dupla Guinga e Thiago Amud.

 

  1. Epitáfio (Vinheta) (Guinga e Anna Paes) – Voz: Anna Paes. Guinga escreveu Epitáfio pensando em palavras para serem inscritas na lápide de uma pessoa falecida. Anna Paes musicou as palavras e interpretou-a como uma vinheta à capela.

 

  1. Julieta no Convés (Guinga e Anna Paes) – Voz: Anna Paes e Guinga. Violão e arranjo: Guinga. Julieta no Convés, a faixa-título deste álbum, é um choro-canção, a mais recente parceria de Guinga e Anna Paes, composta entre 2023 e 2024. A letra fala de uma história de amor semelhante à temática de Noite Sobre Noite, onde a voz também tem papel de destaque no elo de ligação entre o casal. “Se há uma voz na escuridão / será Julieta no convés?”.

 

  1. Mello Baloeiro (Guinga e Anna Paes) – Voz: Anna Paes e Guinga. Violão e arranjo: Guinga. Primeira parceria entre Guinga e Anna Paes. Foi gravada inicialmente de forma instrumental por Guinga e Gabriele Mirabassi; depois foi gravada por Mônica Salmaso, Guinga, Nailor Proveta e Teco Cardoso no álbum Japan Tour; em 2023 foi gravada por Cláudio Jorge e Guinga no álbum Farinha do Mesmo Saco. A canção é dedicada ao artista plástico Mello Menezes, autor da capa do álbum Julieta no Convés, pois era um baloeiro contumaz, no tempo em que a atividade era permitida. A canção evoca a religiosidade e a cultura das festas populares do subúrbio carioca. Ainda homenageia personalidades que fazem parte dessa cultura: Bororó, autor de Curare e Jacob do Bandolim.

 

  1. Valsa Ímpar (Guinga e Aldir Blanc) – Voz: Anna Paes. Violão: Guinga. Saxofones, clarineta e arranjo: Nailor Proveta. Nailor Proveta e Guinga têm uma amizade antiga e tocam juntos constantemente. Quando foi convidado a participar do disco, imaginamos que faria uma linha melódica em contracanto nesta valsa delicada e inédita de Guinga e Aldir Blanc. Qual foi a surpresa de todos, quando Proveta chegou no estúdio trazendo uma “orquestra”, com vários instrumentos de sopro, todos executados por ele em um arranjo de uma beleza tímbrica inigualável, garantida também pela sua dedicação à mixagem da faixa em parceria com Mário Gil. A letra onírica, de “conto de fadas” de Aldir forma um casamento perfeito para a melodia lírica e delicada da valsa de Guinga, interpretada por Anna Paes.

 

  1. Cambono (Guinga e Thiago Amud) – Voz: Anna Paes. Violão e arranjo: Guinga. Segundo Thiago Amud, autor da letra, a história de Cambono fala de uma ialorixá apaixonada. O início da canção, de forma ad libtum, traz palavras em iorubá que falam do poder do Deus criador, do oráculo, presente na cultura afro-brasileira, e introduz as palavras da própria ialorixá que virão a seguir, cantando sua devoção ao seu amor em uma espécie de “transe”, interpretadas por Anna Paes. As intervenções de Guinga nos versos / Ia, não vou/, se por um lado evocam os versos de / vai, vai, não vou/ de “Canto de Ossanha”, por outro, referem-se à palavra “Iá” que quer dizer mãe em iorubá. O amor da ialorixá é tão desmedido que ela não aceita a mortalidade do seu amado. Pretende fechar o seu corpo para que nada de mal lhe aconteça, e em caso da sua morte, pretende ressuscitá-lo.

 

Sobre Guinga

 

Nascido no subúrbio de Madureira, Guinga é um dos principais violonistas e compositores da música popular brasileira. Iniciou a carreira em 1967, quando teve a honra de participar, aos 16 anos, do II Festival Internacional da Canção, ao lado de artistas como Milton Nascimento, Francis Hime, Vinicius de Moraes, Edu Lobo, Dori Caymmi, Pixinguinha etc. Nos anos 70 atuou como violonista ao lado de artistas como Clara Nunes, Beth Carvalho, Alaíde Costa, João Nogueira e Cartola. A lista de artistas que gravaram a sua obra é extensa, com nomes consagrados como Elis Regina, Cauby Peixoto, Michel Legrand, Sérgio Mendes, Chico Buarque, Ivan Lins e Leila Pinheiro entre outros. Com o álbum Simples e Absurdo (1991) iniciou sua carreira discográfica e hoje tem 26 álbuns lançados. Seu disco Cheio de Dedos (1996) recebeu o Prêmio Sharp de melhor disco instrumental. Conquistou o Prêmio da Música Brasileira com a canção Sedutora (2015) e melhor arranjo pelo álbum Porto da Madama (2016).

 

Sobre Anna Paes

 

Anna Paes é cantora, compositora e violonista. Seu trabalho artístico inclui as gravações do álbum autoral Miragem de Inaê (Biscoito Fino, 2016), Você Você – Anna Paes canta Guinga (Kuarup, 2022) e Julieta no Convés – Guinga e Anna Paes (Kuarup, 2024), nos quais interpreta a obra de Guinga acompanhada por ele ao violão, contando no trabalho mais recente, com as participações de Zé Miguel Wisnik, Nailor Proveta e Cristóvão Bastos. Há onze anos tem se apresentado em duo ao lado do compositor e em 2018 foi iniciada uma parceria entre ambos, como compositores. Em 2016, com a canção Choro de Madrinha, Anna Paes foi uma das artistas selecionadas para receber o Prêmio Grão de Música. Com a canção Traz Você, em parceria com Zélia Duncan, foi finalista do Festival TOCA (2020). Suas composições foram gravadas por artistas como Nina Wirtti & Luís Barcelos (2017), Gabriele Mirabassi & Guinga (2018), Mônica Salmaso & Guinga (2019), Dudu Sperb & Guinga (2019) e Cláudia Castelo Branco (2021).

 

Serviço:

 

Show Guinga & Anna Paes no lançamento do álbum JULIETA NO CONVÉS

Local: Bona Casa de Música

Data: 28 de setembro

Endereço: Rua Doutor Paulo Vieira, 101 – bairro Sumaré – São Paulo – CEP: 01257-000

Horário: 21h

Sobre a Kuarup

Especializada em música brasileira de alta qualidade, o seu acervo concentra a maior coleção de Villa-Lobos em catálogo no país, além dos principais e mais importantes trabalhos de choro, música nordestina, caipira e sertaneja, MPB, samba e música instrumental em geral, com artistas como Baden Powell, Renato Teixeira, Ney Matogrosso, Wagner Tiso, Rolando Boldrin, Paulo Moura, Raphael Rabello, Geraldo Azevedo, Vital Farias, Elomar, Pena Branca & Xavantinho e Arthur Moreira Lima, entre outros.

Fonte: Tempero Cultural

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