Por Damaris Pedro
A partir de 28 de maio de 2025, todas as empresas brasileiras devem avaliar e controlar riscos psicossociais no ambiente de trabalho, conforme a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), do Ministério do Trabalho e Emprego. A medida busca prevenir estresse ocupacional, assédio moral e sexual, sobrecarga de trabalho e ambientes tóxicos. Especialistas alertam que, sem uma estratégia bem definida, a mudança pode gerar crises internas, aumento da rotatividade, queda de produtividade e impacto na reputação corporativa. A atualização segue uma tendência global, integrando a saúde mental ao conceito de ESG (Ambiental, Social e Governança)
Segundo o Ministério da Saúde, os transtornos mentais geraram 149,3 mil afastamentos por incapacidade temporária em 2023. No mesmo ano, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) apontou um aumento de 67% nos afastamentos por transtornos mentais. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reforça a gravidade do problema: os transtornos psicológicos são responsáveis por 12 bilhões de dias de trabalho perdidos anualmente, impactando a economia global em US$ 1 trilhão.
A falta de políticas eficazes de saúde mental pode custar caro para empresas e funcionários. A vendedora Vitória Melo, de 27 anos, sentiu isso na pele. “Quando iniciei, me prometeram muitas coisas: comissões, crescimento e um ambiente positivo. Mas, com o tempo, percebi que as cobranças só aumentavam e as promessas nunca se concretizavam. Fui promovida duas vezes, mas o salário mal mudou. Aos poucos, fui me fechando, perdi a vontade de interagir e comecei a chorar sem motivo. Me sentia insuficiente, como se a culpa fosse minha”, confessa a vendedora.
Após ser afastada por dois meses pelo INSS, Vitória iniciou tratamento com terapia e medicação. No período em que esteve fora, a empresa adotou algumas medidas, como palestras sobre saúde mental. No entanto, ela acredita que o problema deveria ter sido prevenido. “O primeiro passo é alinhar expectativas entre a empresa e o funcionário e criar um ambiente de acolhimento sem julgamentos. O apoio no retorno também é fundamental. Fui reintegrada gradativamente, primeiro em home office e depois presencialmente. Ainda estou me recuperando, mas sigo bem”, desabafa. Vitória ainda não foi informada sobre a NR-1 pela empresa. “Se essa norma já existisse, talvez minha experiência tivesse sido diferente”, conclui.
NR-1 e o desafio da cultura corporativa
Para o psicólogo Rubens Gaturamo, especialista em saúde mental no trabalho, a NR-1 pode ser um divisor de águas — mas só se for levada a sério. “Saúde mental é produtividade. Funcionários menos ansiosos tomam melhores decisões, se comunicam melhor e faltam menos. Mas isso precisa ser uma mudança real, não apenas um papel na parede com valores que ninguém segue”, esclarece o profissional.
Segundo ele, muitas empresas nunca olharam realmente para a saúde mental dos funcionários e agora precisam se adaptar. “O maior desafio será mudar a cultura corporativa. Isso passa por capacitar líderes e criar processos reais de gestão de riscos psicossociais. Se as empresas esperarem o problema estourar para agir, vão gastar muito mais tentando apagar incêndios”, alerta.
Gaturamo destaca que a falta de reconhecimento, pressão excessiva e metas inalcançáveis são fatores comuns que levam ao esgotamento mental no trabalho. “Há um mito antigo de que, quanto mais um funcionário for pressionado, mais produtivo será. Mas a realidade mostra o oposto. A produtividade vem de um ambiente equilibrado, onde as pessoas dão o seu melhor porque querem, não trabalhando sob presão”, adverte a especialista.
O que as empresas podem fazer agora?
Para Jéssica Simões, especialista em comunicação corporativa e ghostwriting, a forma como a NR-1 será comunicada internamente pode determinar o sucesso ou o fracasso da adaptação. “Se os líderes não traduzirem esse conteúdo técnico para mensagens claras e acessíveis, a equipe pode reagir com medo e resistência. O primeiro passo é estruturar essa comunicação para engajar, e não alarmar”, explica.
A especialista reforça que, antes de implementar mudanças, é essencial abrir espaço para o diálogo com os colaboradores, permitindo que expressem preocupações e identifiquem desafios antes da adequação à norma. “Muitas vezes, conversas informais revelam pontos de atenção e ajudam a evitar crises internas. Além disso, a comunicação precisa ser estratégica”, ressalta Jéssica.
Segundo Gaturamo, mentoria para líderes e suporte especializado na comunicação fazem toda a diferença. “Muitos gestores nunca foram treinados para lidar com saúde mental. Agora, terão que aprender. O ideal é criar espaços seguros para conversas sobre o tema e equilibrar cobrança com suporte real”, afirma.
Primeiros passos para se adequar à NR-1
As empresas podem iniciar o processo de adequação com algumas ações práticas:
- Informar os funcionários sobre a nova regulamentação e seus impactos na empresa.
- Realizar uma Análise Ergonômica do Trabalho (AET), incluindo riscos psicossociais.
- Criar um plano de Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO) que contemple medidas para reduzir o impacto do estresse no trabalho.
- Implementar programas de apoio psicológico, como suporte terapêutico e palestras sobre saúde mental.
- Estabelecer políticas contra assédio e discriminação para garantir um ambiente seguro.
- Treinar líderes para lidarem com a nova realidade e comunicarem a mudança de forma clara.
A importância da comunicação para evitar crises
Se a linguagem for muito técnica, os funcionários podem se sentir perdidos e desconectados do que realmente importa, alerta Jéssica Simões. “É como explicar novas regras de um jogo: se ninguém entende, ninguém joga direito. Mas, se o líder souber comunicar bem, toda a equipe se alinha e a mudança acontece de forma natural”.
Para evitar ruídos e crises internas, muitas empresas têm recorrido a estratégias de comunicação especializadas, garantindo que executivos consigam transmitir informações de forma clara e motivadora.
Com a data limite se aproximando, a NR-1 exige das empresas mais do que adequação legal — ela pede uma mudança de cultura. Quem souber usar a comunicação de forma estratégica poderá transformar essa nova exigência em um diferencial competitivo e fortalecer sua reputação no mercado.
Fonte: Aster Assessoria de Imprensa