Senna nos braços do povo!
O dia 28 de março de 1993 prometia ser apenas mais um domingo na vida da família brasileira: acordar mais tarde, almoço em família, Faustão e Silvio Santos ocupando as tardes. Mas aquele domingo foi completamente diferente para o Brasil e os amantes da Fórmula 1. Era dia do Grande Prêmio do Brasil, dia de ver Ayrton Senna correr diante de sua torcida em Interlagos.
O GP daquele ano não inspirava grandes esperanças para Senna. O domínio das Williams de Alain Prost e Damon Hill era evidente, com os dois ocupando a primeira fila do grid. Prost largou na pole position, cravando 1:15.866, enquanto Senna, com sua McLaren, parecia em desvantagem.
Era um domingo de calor em Interlagos, com arquibancadas lotadas e a torcida empurrando Ayrton Senna rumo a uma improvável vitória contra os poderosos carros de Sir Frank Williams. Na largada, Senna foi para cima de Damon Hill e assumiu a segunda posição, ficando atrás de seu arquirrival Alain Prost, que vinha de uma vitória na etapa inaugural em Kyalami, na África do Sul, no dia 14 de março.
Prost manteve a liderança, seguido de perto por Senna. A superioridade da Williams, equipada com um motor Renault, contrastava com a McLaren de Senna, movida a Peugeot. O francês abria vantagem a cada volta, e tudo indicava que ele conquistaria sua sétima vitória no Brasil, ainda mais quando Senna recebeu uma punição de drive-through por excesso de velocidade nos boxes. Após cumprir a penalidade, ele voltou à pista em quinto lugar.
Parecia um balde de água fria para os fãs em Interlagos. Mas então, uma visitante ilustre e frequente apareceu: a chuva. Aquela chuva que torna a pista escorregadia, embaralha o grid e separa os homens dos meninos, revelando quem tem mais talento, perícia e ousadia.
A chuva caiu forte. A Footwork de Aguri Suzuki rodou na reta dos boxes. Logo depois, no “S do Senna”, Alain Prost perdeu o controle da Williams, rodou e acertou a Minardi de Christian Fittipaldi, que estava atolada na caixa de brita. O francês estava fora do GP Brasil!
A torcida explodiu em festa, não só pelo abandono de Prost, mas porque Ayrton Senna, o rei da chuva, voltava à briga pela vitória. Após uma parada nos boxes, ele retornou colado em Damon Hill. Na volta 51, Senna atacou: contornou a curva do Lago grudado na Williams, deu o famoso “drible da vaca” no inglês, ameaçando ir por fora. Hill fechou a porta, mas Senna mergulhou por dentro na curva do Laranjinha e assumiu a liderança. O autódromo quase veio abaixo com a manobra genial de Senna, que tomava a ponta pela primeira vez na corrida.
Com a pista molhada, Senna abria vantagem a cada volta sobre Damon Hill, que percebia que não tinha como competir com Ayrton em casa, com o apoio da torcida e nas condições adversas. A disputa agora era pelo terceiro lugar no pódio, entre o inglês Johnny Herbert e o alemão Michael Schumacher, da Benetton. Na volta 61, Schumacher cravou a volta mais rápida da prova, com 1:20.024, e, a poucas voltas do fim, ultrapassou Herbert no “S do Senna”, garantindo a terceira posição.
Chegou a volta final, a de número 71. Apenas 4.309 metros separavam Ayrton Senna de sua segunda vitória no Grande Prêmio do Brasil. Quem não se lembra da emoção na voz de Galvão Bueno? “Aí vem Senna na reta, é o final da prova! Ayrton Senna na ponta dos dedos! Ayrton, Ayrton, Ayrton, Ayyyyyyrton Senna do Brasil!” E o Tema da Vitória ecoando ao fundo, celebrando mais um triunfo de Senna na F1, o segundo em solo brasileiro.
Após a vitória, ele repetiu o gesto icônico: pegou a bandeira do Brasil, exibindo ao mundo o amor por sua pátria. A torcida, enlouquecida, invadiu a pista na Reta Oposta para comemorar e se aproximar de seu ídolo, carregando Senna nos braços em meio à multidão.
Foi uma cena inédita na Fórmula 1: uma torcida invadindo a pista para erguer seu herói. Depois disso, o safety car levou Ayrton de volta aos boxes. Emocionado como sempre, ele abriu a janela do carro e acenou para a torcida e os fiscais de pista, que celebravam mais uma vitória.
Nos boxes, Senna foi direto para a garagem da FIA e, em seguida, para a cerimônia de premiação no pódio, ao lado de Damon Hill e Michael Schumacher. Quem lhe entregou o troféu de vencedor foi o pentacampeão mundial Juan Manuel Fangio (1951, 1954, 1955, 1956, 1957). Em um gesto de respeito e carinho, Senna desceu do pódio e deu um caloroso abraço em Fangio, seu grande ídolo. Vale lembrar que, após o tricampeonato em Suzuka, em 20 de outubro de 1991, Senna fez questão de viajar a Buenos Aires para jantar com o argentino.
Com essa vitória, Senna assumiu a liderança do Mundial de F1, com 16 pontos contra 10 de Alain Prost. Além de Senna, Hill e Schumacher no pódio, a prova terminou com Johnny Herbert em quarto, Mark Blundell em quinto e Alessandro Zanardi em sexto, fechando a zona de pontuação.
Foi assim que, em 28 de março de 1993, há 32 anos, vimos a última vitória de Ayrton Senna diante de sua torcida em Interlagos.
Obrigado, Becão! Valeu, Ayrton Senna do Brasil!
Senna fantástico e excelente matéria Marcelão !!
Parabéns pela matéria. Sucesso total!!
Pasarán los años y Senna seguirá marcando historia, grande Ayrton. Y gran nota como siempre de Marcelo “La enciclopedia humana” Maranello
Matéria bem escrita e emocionante. Me fez relembrar o quanto tínhamos e ainda temos orgulho desse grande ídolo.
Sempre nos detalhes, parabéns pela matéria, bateu aquela saudades
Matéria espetacular
Grandes recordações, trazidas por este espetacular jornalista, Marcelo Maranello!
Parabéns ao JWNWES!
Simplesmente inesquecível!!
LEMBRO MUITO DO AO VIVO NA TV!!
Era AFÚ! Foi AFÚ!
Dentre is F1 mais AFÚ da história, coloco esra Mclaren de 93, a de 9 a Bragham BT 52 do Piquet e a Brabham BT 46. Claro que tem outros tipo a Lotus JPS do Emerson e a Ferrari do Villeneuve, além do Copersucar FD01