Milhões de mulheres sofrem em silêncio enquanto o sistema público ignora a condição como um problema real
Mais de 30 milhões de mulheres estão na menopausa no Brasil, mas apenas 238 mil foram diagnosticadas no Sistema Único de Saúde (SUS). Enquanto isso, o país conta com 40 mil ginecologistas, mas somente 18% sabem prescrever terapia hormonal. Os números são alarmantes e revelam um cenário de negligência institucional.
O assunto ganha cada vez mais repercussão com a ajuda de celebridades como Cláudia Raia, que após um grande sucesso em Portugal estreia em junho em SP a peça Cenas da Menopausa, além da apresentadora Fernanda Lima. Ainda assim, o quadro é de total abandono das mulheres. “As que podem pagar por um tratamento seguem em frente. As que não podem, padecem em silêncio. Isso é justo?”, questiona Fabiane Berta, ginecologista, pesquisadora e fundadora do MyPausa, um movimento que busca transformar a forma como o país enxerga e trata a menopausa.
Por décadas, a menopausa foi reduzida a ondas de calor e sudorese noturna, mas a verdade é que mais de 100 sintomas estão associados a essa fase, afetando as mulheres de forma física, emocional e cognitiva. Ansiedade, depressão, insônia, palpitações, boca e olhos secos, dores articulares, perda de memória, crises de pânico, enxaquecas e até formigamento são apenas alguns dos sintomas que milhões de brasileiras enfrentam diariamente sem sequer saber que estão relacionados à menopausa.
“A menopausa não é apenas sobre calorões. Existem centenas de sintomas associados a essa fase e muitas mulheres não os reconhecem. Elas sofrem em silêncio, sem saber que é sobre ela, a menopausa”, alerta a pesquisadora.
A falta de diagnóstico e tratamento adequado leva muitas a questionarem sua sanidade mental. Sem respostas, acabam medicadas com antidepressivos quando, na verdade, precisavam de um acompanhamento adequado para o climatério.
Ainda de acordo com a ginecologista, a menopausa não afeta apenas a saúde das mulheres, mas também suas carreiras, autoestima e autonomia financeira. Milhares delas pedem demissão nessa fase da vida porque não se sentem capazes de manter a produtividade. Dificuldade de concentração, crises de ansiedade e falta de suporte adequado dentro do ambiente corporativo fazem com que muitas sejam levadas ao limite.
Para Fabiane Berta, um dos maiores retrocessos na área foi a descontinuação do implante de estradiol, um tratamento amplamente conhecido há mais de 20 anos e descontinuado não por ineficiência do produto, mas por questões políticas. “O estrogênio em pellet hormonal precisa ser retomado em todo o país urgente. Não há justificativa para a ausência de um tratamento seguro, eficaz e acessível para as mulheres”, destaca.
A menopausa não é uma experiência única e padronizada. Cada mulher tem suas singularidades e o acesso à terapia hormonal reforça e democratiza isso. Berta finaliza dizendo que o Brasil precisa acordar para a menopausa. “O que estamos esperando, que mais mulheres adoeçam? Que mais mulheres abandonem seus empregos? Percam sua qualidade de vida? Desistam? Se hoje o Brasil não sabe lidar com a menopausa, imagine o que vai acontecer quando as próximas gerações chegarem a essa fase?”.
Sobre Fabiane Berta: Médica ginecologista e obstetra especializada em medicina fetal pela FMSCSP. Pós-graduada em Endocrinologia, Neurociências e Comportamento. Mestranda no núcleo da Endometriose, Dor Pélvica e Menopausa da UNIFESP.
Speaker, pesquisadora e key opinion maker da Fagron Brasil.
PI e Chefe do Steering Committee do Estudo MyPausa, coordenado pela Science Valley.
Criadora do MYPAUSA, que propõe a criação de um registro nacional da menopausa nos 27 estados do Brasil, com a finalidade de promover uma reforma nacional na saúde feminina que assegure acessibilidade a inovações e tratamentos atualizados, impactando políticas públicas e privadas e respeitando todas as diversidades regionais.
Fonte: Maxima SP