Os cuidados com efeitos colaterais que podem levar a comportamentos sexuais de risco

O uso de medicamentos pode estimular a hipersexualidade, de acordo com duas matérias veiculadas pela Folha de São Paulo nos últimos meses. O texto de Tiago Pechini, na coluna Folhateen, em 27 de fevereiro de 2025, aborda a ingestão de Tadalafila por adolescentes para potencializar as ereções.

Remédios usados para distúrbios de movimento — incluindo a síndrome das pernas inquietas (SPI) — geraram graves efeitos colaterais que levaram pacientes a adotar comportamentos sexuais de risco, segundo matéria publicada na editoria de Saúde, originalmente publicada na BBC News Brasil, escrita por Noel Titheradge e Curtis Lancaster.

 

Análise de um especialista

A hipersexualidade é um efeito colateral raro, mas, importante, de medicamentos que atuam no sistema serotoninérgico e dopaminérgico. Profissionais de saúde devem estar cientes dessa possibilidade e monitorar os pacientes quanto às mudanças no comportamento sexual durante o tratamento. A identificação precoce e o manejo adequado podem ajudar a minimizar o impacto negativo desses sintomas na qualidade de vida dos pacientes.

 

A busca pelo bom desempenho sexual, segundo o psiquiatra e professor livre-docente Danilo Antonio Baltieri, “tem se tornado uma preocupação crescente entre adultos e adolescentes, influenciada significativamente pela mídia e pelo acesso a conteúdos pornográficos”.

O médico alerta que “além da busca pela melhor performance sexual, existem ocorrências do aumento da busca por sexo induzida por medicações. Aqui, claro, a pessoa não utilizaria medicações para a promoção do melhor desempenho sexual, mas é atingida por efeitos colaterais que podem aumentar a impulsividade sexual”, afirmou Baltieri.

A hipersexualidade, caracterizada por um aumento excessivo do desejo sexual ou comportamentos sexuais compulsivos, pode ser um efeito colateral raro, mas significativo, de certos medicamentos, como os agonistas dopaminérgicos e mais raramente os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs). Esses medicamentos, amplamente utilizados no tratamento de transtornos depressivos, ansiosos, obsessivos-compulsivos, e doenças neurológicas são conhecidos por causar disfunções sexuais, como diminuição da libido, anorgasmia (dificuldade ou incapacidade de atingir o orgasmo) e ejaculação retardada. No entanto, em alguns casos, eles podem desencadear um revés comportamental. “A hipersexualidade também pode ser um efeito colateral grave e pouco reconhecido de medicamentos agonistas dopaminérgicos, amplamente utilizados no tratamento de doenças como Parkinson, síndrome das pernas inquietas e hiperprolactinemia. Esses medicamentos, que atuam estimulando os receptores de dopamina no cérebro, estão associados a uma série de distúrbios do controle de impulsos, incluindo jogos patológicos, compras compulsivas e, particularmente, hipersexualidade”, disse Baltieri

 

Manejo clínico e o alerta sobre efeitos colaterais

O manejo da hipersexualidade induzida por agonistas dopaminérgicos deve incluir a conscientização dos pacientes e familiares sobre os riscos associados a esses medicamentos. Profissionais de saúde devem monitorar regularmente os pacientes quanto a sinais de comportamentos impulsivos, especialmente após o início do tratamento ou aumento da dose.

Em muitos casos, a redução da dose ou a descontinuação do agonista dopaminérgico pode resolver os sintomas de hipersexualidade. No entanto, em pacientes com doença de Parkinson, a substituição por outro medicamento pode ser necessária para controlar os sintomas motores sem desencadear comportamentos compulsivos. Além disso, terapias cognitivo-comportamentais e intervenções psiquiátricas podem ser úteis no tratamento desses distúrbios.

 

Danilo Antônio Baltieri é psiquiatra, especialista em transtornos sexuais. É mestre, doutor e professor Livre-Docente pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Em 2003, fundou o Ambulatório de Transtornos da Sexualidade da Faculdade de Medicina do ABC (ABSex), um instituto que oferece tratamento terapêutico a pessoas com pedofilia, em Santo André (São Paulo).

 

 

Fonte: Renata Souza Aranha 

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