Especialista em oratória comenta que liderar uma instituição religiosa no século XXI requer escuta ativa, linguagem acessível e disposição para dialogar com os desafios do presente
Desde que assumiu o comando do Vaticano, em 2013, o Papa Francisco adotou uma forma de comunicação diferenciada dos demais pontífices. Com falas simples, diretas e gestos simbólicos, ele construiu verdadeiras pontes com o povo, fiéis ou não, especialmente com os que vivem à margem da sociedade. Ao contrário dos seus antecessores, que seguiam uma linguagem mais institucional e distante, Francisco preferiu expressões do cotidiano, retirou as formalidades e passou a utilizar os canais digitais para alcançar milhões de pessoas.
Para o advogado e professor de comunicação Giovanni Begossi, essa estratégia transformou a maneira como o Vaticano se posicionou diante do mundo. “Francisco compreendeu a importância de não se comunicar apenas com os católicos praticantes. Ele sempre se dirigiu a um público mais amplo, que incluía pessoas afastadas da Igreja, não religiosas e até críticas. E fez isso de maneira humana, sem rodeios e com muito simbolismo”, afirma.
O Papa usava as redes sociais para se aproximar de diferentes públicos, realizava entrevistas espontâneas e falava com frequência sobre temas sensíveis e populares, mas que ganhavam repercussão global pela interpretação como mensagens de solidariedade e inclusão. Para Giovanni Begossi, “Além do estilo direto, o conteúdo de suas falas sempre se conectava com questões sociais relevantes e, assim, pedindo atenção às causas mais urgentes, o Papa conseguiu ampliar o papel da Igreja no debate público e na atuação como conciliadora”.
A comunicação de Francisco não era apenas verbal. Era também corporal, visual e emocional. Naturalmente carismático, ele entendia o valor de um gesto e o impacto de uma imagem na sociedade contemporânea. “O Papa devolveu à Igreja a função de escuta, acolhimento e presença. E isso passa necessariamente por uma boa comunicação. Não adianta ter uma mensagem forte se ela não é entendida pelas atuais gerações ou se não provoca empatia. Tem tudo a ver com a citação de Nelson Mandela que diz assim: ‘Se você se comunica com uma linguagem que a pessoa entende, essa mensagem entra na cabeça, mas se você se comunica com a sua própria linguagem, essa mensagem entra no coração’”, comenta Begossi, que tem 2M de seguidores no maior Instagram dedicado à comunicação da América Latina.
A postura de Francisco também causava reflexos internamente. Ele evitava o uso de tronos e vestimentas suntuosas, vivia em uma residência simples e preferia carros modestos para transitar. Todos esses sinais comunicam e indicam uma mudança de mentalidade, que busca renovar o vínculo com o povo. “A Igreja precisa se comunicar com autenticidade, especialmente em um mundo cada vez mais veloz. Francisco acertou muito ao unir palavra e ação”, conclui o especialista.
Sobre o especialista: Giovanni Begossi, mais conhecido como El Professor da Oratória, possui 15 anos de estudos dedicados à comunicação, é advogado e bicampeão brasileiro de oratória. Palestrante e professor de argumentação internacional, foi por meio da comunicação que deixou de ser um “nerd anti social” e ganhou mais de 20 prêmios de debate e oratória em três idiomas diferentes: inglês, espanhol e português. Referência no ramo, hoje dá palestras e consultorias para diversas empresas como Johnson & Johnson, Falconi, Suno, Vivo, WEG e até o GATE, Grupo de Ações Táticas Especiais da PM de SP, além de empresários multimilionários, políticos, celebridades, atletas e personalidades. Possui o maior perfil de comunicação e oratória da América Latina com 2 milhões de seguidores no Instagram. @elprofessordaoratoria
Fonte: Maxima SP