Escritora é grande homenageada este ano / Atividades do Mês da Consciência Negra seguem até dezembro
Na última sexta-feira (8), o Teatro Clara Nunes recebeu cerca de 200 pessoas, a maioria pretas, para marcar o início da Kizomba – Festa da Raça, celebrando o Mês da Consciência Negra em Diadema há 23 anos.
Em 2024, a grande homenageada é a escritora brasileira Carolina Maria de Jesus, que foi tema de exposição no saguão do teatro, peça de teatro, diversas atividades da Feira Literária de Diadema (Flid) e cuja filha, a educadora Vera Eunice de Jesus, conversou com a plateia na noite de abertura.
Antes desse bate-papo, no entanto, quem ocupou o palco foi o Núcleo Eloko Ayan, de Diadema, com uma apresentação teatral baseada na vida da autora de Quarto de Despejo. “Parece que eu estava vendo a minha mãe ali,” comentou Vera, emocionada, para a atriz Débora Santana.
“Andam dizendo que em nossa cidade não existe racismo. Seria ótimo, sinal que nosso trabalho deu certo,” provocou a coordenadora de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Márcia Damaceno. “Mas o racismo está bem vivo, infelizmente. O que é verdade é o trabalho pioneiro de Diadema na luta contra o preconceito, trabalho que serve de exemplo para muitas cidades do estado de São Paulo. Não à toa conquistamos o título de Cidade Antirracista. Tudo isso porque a sociedade nunca quis que nós, pretos, estivéssemos no poder e persistindo na construção de políticas públicas. Mas não vamos nos amedrontar e não vamos recuar. Pois como dizia Conceição Evaristo, ‘Eles combinaram de nos matar, mas a gente combinou de não morrer.'”
“É uma resistência, uma resistência de séculos,” pontuou o secretário de Cultura, Camilo Vanucchi. “Ainda que nossa gestão esteja terminando, vocês vão continuar a ocupar os espaços, a ocupar este teatro. Para fazer com que estas lutas permaneçam, que essa resistência aconteça.”
Sob muitos aplausos, a vice-prefeita Patty Ferreira tomou a palavra. “Diadema sempre foi vanguarda na luta contra o racismo. Aqui, o 20 de novembro já era feriado muito antes de virar feriado nacional. Porque Diadema é uma cidade preta. 51% da população é afrodescendente. Então sabemos que tipo de políticas públicas a cidade precisa, políticas voltadas para a maioria da população, que somos nós.”
Vera Eunice de Jesus ressaltou a importância de homenagear Carolina em Diadema, uma cidade preta e de maioria feminina, uma vez que sua mãe serve de exemplo a tantas meninas e mulheres negras, atingindo principalmente as mais simples. “Eu fui convidada para um desfile de moda e a estilista, uma jovem transexual preta, me confidenciou que sofria tanto preconceito na periferia de Salvador que ela passou a quase não sair mais de casa, ocupando seu tempo desenhando e costurando retalhos. E a ler. Foi só quando pegou Quarto de Despejo que ela se deu conta que poderia sim realizar seus sonhos. Ser como Carolina de Jesus. Ela então foi se dedicar a ser estilista. O desfile era todo inspirado em Carolina.”
Antes de encerrar a cerimônia, os presentes foram ainda contemplados com um bate-papo com os jornalistas e escritores Bianca Santana e Tom Farias, que discorreram sobre a escrita preta e sobre ser preto no Brasil, a partir do exemplo de Carolina Maria de Jesus. “O tema deste festival é a Ancestralidade e ancestralidade tem a ver com o negro, a luta por identificar-se numa sociedade que o excluiu. Não existe racismo antinegro. Não existe griô branco.”