Estudantes da EMEB Profª Fabíola de Lima Goyano, no Jardim União, foram convidados a estudar profundamente a cultura indígena envolvida no cultivo da planta, além de plantar sua própria horta

Os estudantes das 4ª séries E e D da EMEB Profª Fabíola de Lima Goyano, no Jardim União, tiveram uma tarde bem diferente nesta quinta-feira, 14 de novembro. As crianças se organizaram para apresentar para toda a comunidade escolar os resultados do Projeto Milho Guarani, em que as turmas foram convidadas a estudar profundamente a cultura indígena envolvida no cultivo da planta e, ainda mais, colocar mão da massa e plantar na horta da escola vários pés dessa espécie de milho.

A apresentação é a conclusão do projeto e, além de cartazes e outros objetos explicativos, teve até cural de milho para os visitantes. Como explica o professor do 4º E e responsável pelo projeto, Cesar Ferreira da Silva, até esse momento de compartilhamento e união, inclusive de alimentos, tem relação com a cultura indígena.

“Quando os indígenas faziam a colheita, havia uma grande celebração, a Festa da Colheita. E a gente organizou essa exposição para que toda nossa comunidade escolar conhecesse esse milho originário e essa cultura”, afirmou.

O projeto teve início em fevereiro e envolveu muitas etapas e aprendizagens, como explica Cesar. “A princípio teve um processo amplo de pesquisa deles sobre o que é o milho guarani, porque é importante para os indígenas, qual a relação do culto indígena com o plantio, o protagonismo das mulheres nesse processo.”

Além disso, diversas disciplinas foram trabalhadas ao longo do projeto: Matemática – para medir as distâncias entre as sementes -, História, Geografia, Biologia, inclusive para estudar o impacto ambiental do cultivo do milho verde nos dias atuais.

Até Língua Portuguesa o professor conseguiu trabalhar com as crianças. “O que aconteceu é que os estudantes daqui, da EMEB Profª Fabíola, escreveram e mandaram cartas para crianças de uma escola onde também dou aula, em São Bernardo, a EMEB José Arnaud da Silva. Eles responderam essas cartas com as instruções de como plantar, contando como foi esse plantio e enviaram as sementes para a gente. E fomos mandando relatórios para eles sobre o plantio. E trocamos cartas internamente também.”

Por fim, o professor relata uma situação que mostra a abrangência do projeto. “Algumas espigas não vingaram em função do calor. E isso acabou sendo muito rico porque o debate foi em torno de por que, professor, não rolou? E aí começamos a ter algumas hipóteses: foi em função das condições climáticas, da nossa dificuldade em vir fazer a manuseio da horta, regar etc. Ou seja, eles passaram a ter uma postura de pesquisador”, esclarece Cesar.

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Dandara e Piatã
Para que tudo isso desse certo, o professor aponta a importância da parceria com a professora do programa Diadema de Dandara e Piatã. A iniciativa, implementada desde 2022 na rede de Diadema, tem o objetivo de valorizar a história e a cultura negra e indígena utilizando, por exemplo, jogos, brincadeiras, leituras e atividades culturais, que ajudam a engajar os estudantes.

“Os estudantes discutiam na sala do programa questões sobre a cultura e práticas indígenas relacionadas a esse plantio do milho guarani. Na sequência, eu desenvolvia esses conteúdos nas outras disciplinas. A sala do Dandara era o grande encontro desse projeto”, finaliza Cesar.

João Lucas Maurício Gomes dos Santos, 9 anos, um dos alunos do professor, falou sobre algumas das coisas que aprendeu com o projeto. “A gente aprendeu muito sobre os indígenas, seus hábitos, mas o principal foi saber de onde vem esse milho, que é dos Andes. Inclusive, quando eles visitavam outras famílias, eles não vendiam esse milho, davam de presente. Para os Guaranis o milho é sagrado.”

Isadora Lopes Souza, 10 anos, também gostou muito do projeto. “Aprendi que o milho guarani é mais saudável que o milho normal. E que os juruás, os não indígenas, poluíram o ar, os rios, a terra e aí para plantar esse milho natural ficou mais difícil. O que eu mais gostei no projeto foi plantar o milho aqui na escola e trocar as cartas com os colegas da outra escola.”

O termo ‘juruás’ é usado pelos Guarani Mbyá para se referir a não indígenas e significa ‘boca com cabelo’. É uma referência aos bigodes e barbas dos conquistadores europeus.

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