Comitê Técnico da Saúde da População Negra e Demais Grupos Étnicos Raciais foi instituído em 2022 e tem como objetivo discutir e combater o racismo estrutural no atendimento de saúde

O balanço dos dois anos de atuação do Comitê Técnico da Saúde da População Negra e Demais Grupos Étnicos Raciais de Diadema mostrou a necessidade de o coletivo continuar suas atividades como forma de reduzir o impacto do racismo estrutural existente na sociedade. O encontro dos representantes do comitê aconteceu na segunda-feira (2) para analisar o desempenho do grupo e projetar as novas ações.

O comitê de saúde dos grupos étnicos existe desde 2022 e dele participam representantes dos equipamentos de saúde e da sociedade civil como sindicatos, movimentos sociais e universidades.

Uma das iniciativas do comitê, a campanha Minha Cor, Meu Orgulho – sobre a importância do preenchimento do quesito raça e cor em todos os cadastros nos equipamentos da saúde – revelou que existem pardos e pretos que não se assumem enquanto negros por falta de autoestima e por desconhecimento de suas origens.

“Muitos se recusam a assumir a cor parda e preta, mas a autodeclaração de acordo com os critérios do IBGE é importante para embasar as políticas públicas na área da saúde voltada à população negra”, disse Márcia Damaceno, Coordenadora de Políticas de Promoção da Igualdade Racial de Diadema (Creppir).

Esse desconhecimento racial ficou revelado nas rodas de conversa sobre a saúde da população negra realizadas nas 20 Unidades Básica de Saúde (UBSs) e nos cinco Centros de Atenção Psicossocial (CAPSs) que reuniu moradores, agentes comunitários, médicos, enfermeiras, psicólogas e assistentes sociais.

A socióloga Yury Orozco, coordenadora do Comitê, disse que existe uma grave relação entre o racismo estrutural e a saúde da população negra. “As pessoas negras adoecem de doenças que já estavam superadas, moram nos lugares onde há uma qualidade de vida muito mais precária e mais vulnerável. E escutamos muitos relatos de mulheres que já sofreram violência obstétrica”.

Ela comentou que o grande desafio é continuar falando sobre a saúde dessa população. “Precisamos continuar conversando com as pessoas negras sobre sua história, sua ancestralidade, sua raça e sua cor, pois existe um grande desconhecimento racial”.

Para Márcia Damaceno, coordenadora da Creppir, a população, seja ela negra ou não, só conhece a narrativa do ponto de vista dos dominadores e seu sistema escravista. “É necessário um resgate histórico, cultural e político das contribuições do povo africano para a construção da nação brasileira. Mudanças no racismo estrutural vão acontecer a partir do resgate das lutas dos heróis e heroínas negros do país como Zumbi e Dandara de Palmares, que pensaram em um Brasil para todos”, comentou.

Indígenas

Os indígenas também sofrem com o racismo estrutural, como disse a professora Sílvia Maria, da etnia Pankará, que mora em Diadema há 27 anos. Nascida em Carnaubeira da Penha, Pernambuco, veio para o Sudeste em busca de oportunidades. “Nós saímos do território, mas não deixamos de pertencer a um povo”, explicou.

O censo do IBGE apontou 188 pessoas que moram em Diadema e se declararam indígena entre pankará, pataxó, cariri e outras etnias. Sílvia Maria se movimenta para os indígenas ganharem mais espaços na região, e não só na área da saúde. “Aqui em Diadema não tem espaços para montarmos o nosso ritual, a nossa cultura”, finalizou.

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