Muitos grandes prêmios da F1 ficaram para a história, sendo lembrados por gerações devido a fatos marcantes, como grandes disputas, decisões de títulos, e o Grande Prêmio da Alemanha de 2000, no circuito de Hockenheim, não poderia ser diferente, este que foi o 11º GP daquela temporada, na qual, Rubens Barrichello fazia sua estreia pela Scuderia Ferrari, substituindo o irlandês Eddie Irvine, que foi para a equipe Jaguar, antiga equipe Stewart, por onde Rubens correu entre os anos de 1997 e 1999, antes de assinar com a equipe italiana de Maranello.

O Grande Prêmio da Alemanha tinha tudo para ser mais uma grande corrida para as McLarens de Mika Hakkinen e David Couthard, casa da Mercedes, que fornecia os motores para equipe inglesa de Woking. A chuva deu as caras em todo o final de semana causando alagamentos nos túneis que davam acesso aos boxes, presentes naquele dia relataram pneus boiando no paddock, enfim, o caos estava instalado.

Você torcedor, sabe aquela situação em que parece em que tudo parecia que daria errado? Rubens teve um treino classificatório para ser esquecido, treinou com carro reserva, o carro não estava acertado para ele, só para lembrar quem é mais jovem, a F1 já teve carro reserva, e os treinos classificatórios eram 1 hora corrida de treino e quem fizesse o melhor tempo largava na pole position.

Naquele sábado de 29 de Julho, o pole position foi o escocês David Coulthard da McLaren, com 1:45:697, enquanto Michael Schumacher foi o 2º, o italiano Giancarlo Fisichella, de Beneton, o 3º e o finlandês Mika Hakkinen, o 4º no grid. Apesar de todos os contratempos, Rubens Barrichello marcou o tempo de 1:49:544, o 18º tempo.

Largada com pista seca, no domingo dia 30, David Coulthard mantém a ponta, enquanto Fisichella se lança para cima de Schumacher e acaba tocando o alemão que sai da pista, Fisichella sai também e é fim de prova para os dois, aquela era a 3ª corrida que Schumacher abandonava e a 2ª logo na largada, lembrando que na França, em Magny Cours, ele teve o motor estourado e na Áustria bateu na largada na freada da curva 1.

Tudo que se imaginava era uma corrida fácil com dobradinha para as McLarens de Coulthard e Hakkinen, e que Rubens Barrichello largando lá de trás faria uma corrida de recuperação para apenas conseguir terminar na zona de pontuação, que na época era do 1º ao 6º colocado.

Rubens veio em uma estratégia ousada e fazendo várias ultrapassagens, fazendo valer a força do motor Ferrari nas longas retas do circuito alemão e decidindo nas freadas fortes, Rubens ia fazendo uma bela corrida, parando pela 1ª vez nos boxes e voltando em 6º. Durante a prova, o inimaginável, um torcedor bêbado invadiu a pista na área da floresta, provocando a entrada do Safety Car.

O estrategista da Ferrari, o inglês Ross Brawn, chamou Barrichello para os boxes o quanto antes, devolvendo o brasileiro entre o ponteiros, para que pudesse entrar de vez na briga pela vitória.

Após uma largada ousada, manobras arriscadas, eis que vem aquela que esteve presente na sexta feira: A chuva, o circuito de Hockenheim cortava a região da Floresta Negra, na Alemanha, parte de altíssima velocidade, onde os carros atingiam os 350 KM por hora. Em situação de chuva, o óbvio era que todos entrassem nos boxes pra trocar os pneus de pista seca para os pneus de chuva.

Mas quem disse que o óbvio é sempre o mais correto a ser feito? Ross Brawn chama Rubinho para os boxes, que diz que vai permanecer na pista porque a pista estava seca, sim, na parte da floresta, enquanto a água caía na parte do estádio e da reta dos boxes. Àquela altura da prova, Rubens Barrichello, na volta 20, já tinha feito aquela que seria a volta mais rápida da corrida, com 1:44:300.

Ross Brawn diz a Rubens: Are you crazy? Você está maluco? Todo mundo entrou para os boxes, menos Barrichello, que decidiu arriscar e seguir em diante rumo ao sonho de sua 1ª vitória na F1, como Barrichello estava com pneus de seco na parte de maior velocidade, ganhava tempo com relação a Hakkinen e Coulthard que estavam de pneus de chuva, pois o pneu de chuva em condição de pista seca, sofre um superaquecimento, fazendo com que ele se desgaste com maior facilidade, enquanto Barrichello só tinha que manter a tocada na parte lenta e molhada da pista, o que fazia Hakkinen perder muito tempo era andar de pneus de chuva na pista, em que sua maior parte estava seca.

Na abertura da volta final, a vantagem de Barrichello para Hakkinen estava na casa dos 12 segundos, e aí a chuva já começava a cair na parte da floresta. Volta final se aproximava, como esquecer aquela narração épica e inesquecível de Galvão Bueno em uma prova em que o Brasil voltaria a vencer na F1, após o GP da Austrália, nas ruas de Adelaide, com Ayrton Senna naquele 07 de Novembro de 1993, em sua despedida da McLaren. Galvão com todo seu talento e emoção dizia naquela volta final:

“O Hakkinen entra no estádio, Rubinho vai contornar a curva que traz para a reta, Rubinho vai rasgar a reta em Hockenheim e vai abrir a última volta no Grande Prêmio da Alemanha. Aí vem Rubinho, para completar a volta, passa Barrichello, traz a Ferrari, 6823 metros separando Barrichello da vitória que ele tanto sonha e há tanto tempo espera.

Agora já são 6500 metros, aos poucos e de forma ainda tímida a equipe Ferrari já vem se posicionando, aí vão todos buscando posição para saudar Rubens Barrichello, toda equipe Ferrari! É um momento bonito na F1, aí vem Rubinho que arriscou tudo.

Capricha Rubinho, na ponta dos dedos que você merece, lá vem ele, ela teria que ser assim depois de tanto tempo, tantas e tantas vezes Barrichello namorou com a vitória, e ela teria que vir assim dramática, com parada para troca de pneus, com um alucinado andando na pista, com chuva, correndo com pneus de pista seca na chuva.

Eu olho para o Burti do meu lado, o Burti chora na cabine. Aí vem Rubinho, vem para os metros finais, finalmente o dia vai chegar, aí o Schumacher, para torcer pelo Rubinho, Rubinho faz pontos para ele e para Schumacher, aí o Hakkinen, vem se aproximando Rubinho, o Rubinho vai chegar e vou ficar de olho para ver ele aparecer no estádio.

Aí o Coulthard que é o 3º colocado, vamos para os metros finais da prova, é a 11ª etapa da F1 2000. Rubens Barrichello entra no estádio, agora são 3 curvas, o torcedor alemão toca as buzinas, agita as bandeiras da Ferrari! Capricha, Rubinho, capricha que é o seu dia, capricha que é o seu momento! O Brasil inteiro vibrando com você, aí vem Rubens Barrichello! E nós vamos ouvir o Tema da Vitória, que há 7 anos não tocávamos!

Aí vem Rubinho na ponta dos dedos! Rubens Rubens Rubens Rubens Barrichello do Brasil!!!! Rubens Barrichello do Brasil vence de forma brilhante o Grande Prêmio da Alemanha! Chegou o dia, foram 7 anos de espera na F1 brasileira, de novo no alto do pódio, aí a festa da Ferrari, ela teria que ser assim, teria que ser de forma dramática! E vocês veem que eles festejam mais do que festejam normalmente.

Vibre mesmo Rubinho, soque o ar, solte o cinto, bate no cinto, levanta do carro, faz o que você quiser, a bandeira brasileira. Valeu Rubinho, isso Rubinho, solta o cinto e levanta do carro! Ergue seu punho! Viva o seu momento! Faça rolar suas lágrimas porque elas são de alegria, mas são também de uma carreira muito sofrida, de muita gente que não acredita, de muita gente que tem o mau hábito de não respeitar o talento dos outros! Chega o momento de Rubens Barrichello! A vitória é sua Rubinho, é do automobilismo brasileiro! Rubens Barrichello do Brasil”!!!

Rubens, após chegar aos boxes, é recebido por Michael Schumacher que lhe dá um abraço, recebido, reconhecido e parabenizado por membros de todas as equipes, mostrando o carinho e o respeito que o mundo da F1 tem por ele, e no pódio mais emoção, Rubens já apareceu extremamente emocionado no pódio, carregando a bandeira brasileira, enquanto Galvão com toda sua emoção dizia “ No momento em que ele vibrava, soltava o volante, e agora vai para o pódio, e o tema da vitória segue aí ao fundo. Rubinho agradece a Deus, se emociona e vai às lágrimas. E o hino nacional vai ser tocado de novo na F1”.

Na festa do champanhe, seus adversários na pista Mika Hakkinen e David Coulthard, reconhecendo o talento do brasileiro, ergueram Rubinho no degrau mais alto do pódio, repetindo o gesto quando ergueram o piloto canadense Jacques Villeneuve, quando ele foi campeão com a Williams, no GP da Europa, no circuito espanhol de Jerez de la Frontera, no dia 26/10/1997.

Rubens Barrichello deu ao Brasil neste dia 30 de Julho de 2000, em sua corrida número 124, sua vitória número 80 na F1, somando- se a única vitória de José Carlos Pace, as 14 de Emerson Fittipaldi, as 23 de Nelson Piquet e 41 de Ayrton Senna, e esta vitória impediu que com uma dobradinha, a McLaren chegasse à liderança do mundial de construtores e que Mika Hakkinen ultrapassasse Michael Schumacher na liderança do campeonato de pilotos, pois ao final da prova, Schumacher liderava com 56 pontos contra 54 pontos de Mika Hakkinen e David Coulthard, enquanto Rubens Barrichello subia para 46 pontos, enquanto no campeonato de construtores, a Ferrari liderava com 102 pontos contra 98 da McLaren.

Esta vitória foi a 1ª do Brasil após a morte de Ayrton Senna em 01/05/1994 às 13:40 no Hospital Maggiore, em Bolonha, a 1ª vez que ouvíamos o Tema da Vitória na F1 após a morte de Senna, composta brilhantemente pelo grande maestro Eduardo Souto Neto, para ser um tema de vencedores do Grande Prêmio do Brasil de F1, e tocado pela 1ª vez em uma vitória de Nelson Piquet em 13/03/1983, no saudoso circuito de Jacarepaguá/RJ.

Esta grande vitória, não marcou apenas a vitória 80 do Brasil na F1, mas a 1ª de um grande piloto muitas vezes injustiçado, espezinhado, humilhado por grande parte da mídia e de falsos torcedores, pois naquele dia, Rubens Barrichello mostrou ao mundo e principalmente ao Brasil, o seu grande valor, o seu talento, o quanto se luta, se batalha na vida, para se alcançar um momento épico como aquele em que muitos sonham e muito poucos os que conseguem chegar.

 

Obrigado por tudo Rubens Barrichello do Brasil, vencedor do Grande Prêmio da Alemanha 2000!!

 

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11 comentários em “Grande Prêmio da Alemanha 2000 – A vitória heroica de um brasileiro chamado Rubens Barrichello”

  1. Mais uma excelente matéria de , Marcelo Maranello e, faço minhas as sua palavras, Rubens Barrichelo, o nosso “Rubinho”, é um valoroso corredor, uma pessoa expendida e que é injustamente criticado por quem não faz ideia do esforço necessário para chegar onde ele chegou, por isso, é muito justa a vossa homenagem a ele. Parabéns!

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