Domingo inesquecível do Becão Tricampeão
O campeonato mundial de F1 de 1991, o do tricampeonato de Ayrton Senna teve pela primeira vez uma disputa pelo título envolvendo Ayrton Senna contra um rival diferente do francês Alain Prost, o rival da vez seria o inglês, o leão Nigel Mansell, que retornava à equipe Williams para buscar enfim seu primeiro título mundial na F1, após dois vices campeonatos mundiais.
Após início avassalador de Ayrton Senna e da McLaren, com 4 vitórias, nos EUA, Brasil, Imola e Mônaco, a sorte virou para a equipe de Grove, a equipe de Sir Frank Williams, fazendo com que o campeonato mundial de 1991 se tornasse mais equilibrado, diferente do campeonato de um piloto só, que se desenhava no início do campeonato.
Após uma disputa ferrenha durante a temporada, a decisão do título mundial da F1 se arrastava novamente para o Grande Prêmio do Japão, no circuito de Suzuka. Ayrton Senna precisava apenas chegar à frente de Nigel Mansell na corrida para assegurar o 3º título mundial na F1, então Senna combinou com seu companheiro de equipe, o austríaco Gehard Berger:
Berger, por mais que eu largue melhor que você, você pula na ponta e some, vai embora, você eu não posso segurar, já com o Mansell eu me viro. Berger fez a pole com 1:34:700, enquanto Senna foi 2º no grid. Dada a largada as McLarens pulam na ponta com Senna e Berger, enquanto Mansell vem que vem alucinado atrás de Ayrton Senna.
Na volta de número 10, quando Berger já estava 7.5 à frente de Senna, eis que a afobação novamente trai Nigel Mansell e o inglês da Williams roda sozinho no curvão após a reta dos boxes, ao tentar sair do vácuo de Ayrton. Mansell fica atolado na brita e fim de prova para o inglês, que amargava pela terceira vez o vice campeonato, e Ayrton Senna por sua vez, comemorava seu tricampeonato mundial.
Naquele momento da prova, Galvão Bueno dizia: “E o Mansell no curvão passou reto Mansell, passou reto Mansell, passou reto Mansell acaba o campeonato mundial porque daí ele não consegue mais voltar, vai acabando o campeonato mundial, Ayrton Senna pode comemorar e comemora Ayrton Senna é Tricampeão Mundial de F1! Mansell pressionou pressionou pressionou, o leão rugiu alto demais, se atrapalhou no grid e passou reto no curvão. Passa reto Mansell, Senna me dizia ontem, Senna levou o pé e dizia exatamente isso: Eu me garanto para segurar o Mansell e o Berger que se mande! Aí o Frank Williams, termina o sonho de Mansell, Mansell é tri vice campeão, e Senna e Tricampeão mundial de F1 na volta de número 10! O leão volta a pé para os boxes”.
Após a rodada sozinha de Nigel Mansell, Senna foi em busca de Berger na pista e na volta 18, na curva 130R, no terceiro setor do circuito de Suzuka, Senna alcança Berger, bota por dentro e faz a ultrapassagem, assumindo a liderança da prova. Volta final em Suzuka, Ayrton já abre a volta final comemorando, sendo saudado pelos japoneses presentes no circuito e nos metros finais, na chincane da discórdia, Berger encostou em Senna e em agradecimento a Berger na linha de chegada, Ayrton tira o pé e dá a vitória ao seu companheiro de equipe, Berger vencia a primeira na temporada e Senna sacramentava o tricampeonato mundial, fazendo a festa completa da equipe McLaren de Ron Dennis.
No momento da chegada, Galvão Bueno transmitia a emoção da conquista de Senna dizendo: “Restam 3 curvas, a McLaren prepara a festa, a Honda prepara a festa, a torcida japonesa prepara a festa, o Brasil prepara a festa de Senna! Aí vem Senna na chincane, Berger se aproxima muito, Berger encosta, ele faz o sinal para Berger, ele faz o sinal EU SABIA! EU SABIA! Senna deixa Berger passar, Gehard Berger vence! Ayrton Senna do Brasil Tricampeão Mundial de F1, ele tira o pé na entrada da reta, deixa o amigo Berger passar, Berger conquista sua primeira vitória. Senna mostra como é feito um grande ídolo e um grande esportista, a festa é dele, a festa é da McLaren, a festa é de Ron Dennis, a festa é sua aí no Brasil! Ayrton Senna da Silva, Tricampeão Mundial de F1”.
O que se via naquele momento era o povo japonês, um povo contido nas emoções extravasar com a conquista de Senna, os fiscais de pista entregando a bandeira brasileira para Senna na volta da vitória, gesto que ele imortalizou pelos 4 cantos do mundo, mostrando o amor e o orgulho por seu país, por sua terra. Ayrton estava nos braços do povo em Suzuka, que lembrava muito um domingo de corrida em Jacarepaguá e Interlagos, devido ao massivo número de bandeiras brasileiras espalhadas por todo circuito.
Era incontável o número de bandeiras em Suzuka, aquela era a admiração que os japoneses tinham por Ayrton Senna, pelo piloto que os japoneses escolheram para torcer. Naquela madrugada no Brasil, o Brasil acordado vendo o tricampeonato de Senna, comemorando a conquista de seu ídolo, que botava o nome e a bandeira do Brasil no topo do mundo mais uma vez e mostrando que o Brasil tinha alguém que representava o país nas pistas. Aquele era o 8º título do Brasil na F1 em 20 anos.
A conquista de 1991 foi para lavar a alma, exorcizar todo mau momento e más recordações de anos anteriores, como 1989 e 1990, mesmo vencendo o campeonato de forma triste, batendo em Prost na largada em 1990.
Aquele foi um campeonato limpo vencido pelo homem que era uma verdadeira máquina de vencer, que dentro de um carro de corrida se transformava em um homem, em um esportista imbatível que ia além de seu limite para conquistar o que tanto desejava, e que acima de tudo, carregava dentro de seu carro cada um de nós, cada brasileiro, aquele povo sofrido que torcia por ele nas manhãs, tardes e madrugadas de domingo e apesar dos problemas, tinha a alegria nos domingos de comemorar as vitórias de seu ídolo.
O tricampeonato de Senna o colocou junto a grandes nomes da F1 também com 3 títulos mundiais como o compatriota Nelson Piquet, o australiano Jack Brabham, o escocês Jackie Stewart, o francês Alain Prost e o austríaco Niki Lauda. Era o Brasil figurando em duas décadas entre os maiores vencedores da história da F1.
A maior coincidência de Senna e os três títulos no Japão é que os três títulos foram conquistados exatamente no mesmo ponto do circuito japonês: O fim da reta dos boxes, pois em 1988 ele ultrapassou Alain Prost no final da reta dos boxes, para assumir a liderança, vencer a prova e se sagrar campeão mundial pela primeira vez. Em 1990, quando no final da reta bateu no Prost logo na largada, garantindo o bicampeonato e em 1991, no tricampeonato, quando na volta 10 o Mansell rodou, abandonando a prova e assegurando a Senna o tricampeonato.
Este 20 de Outubro de 1991, dia em que o Brasil desiludido com o futebol da seleção brasileira, desiludido com a política, teve uma razão para comemorar e sentir orgulho de ser brasileiro, pois Ayrton Senna, um Silva como tantos brasileiros trabalhadores, anônimos, levava o Brasil ao topo do mundo.
Obrigado, Ayrton! Senna Sempre!
Sempre muito bom ouvir sobre o nosso Ayrton! Parabéns pela matéria Marcelo!
Lá se vai 30 anos , bela reportagem parabéns
Sempre , detalhista, parabéns amigão 🤝🤝
Maranello nos trazendo dejavus…
Nesta madrugada de sábado estava em Boracéia litoral norte de São Paulo assistindo neste lugar pela segunda vez Ayrton campeão, ao ler parecia ouvir a narração do Galvão na saída da curva além de estar viva a o rastro de poeira levantando na brita, foi um momento tenso e inesperado diante da recuperação de Mansell e o carro da Willians com a mágica suspensão ativa…
Mas Senna desenhou a corrida antes dela acontecer, a maioria dos pilotos e equipes desenhariam a estratégia para o escudeiro segurar o Leão, mas naquele cockpit tinha um gênio com uma força mental e técnica jamais vista na Fórmula 1, que se garantiu na pilotagem…
O ” O eu sabia” deu o que falar….Que o Galvão já sabia que o Senna deixaria Berger ganhar a corrida isso o Galvão já sabia…” O que será que rolou no jantar antes da corrida?
Valew Maranello por nos fazer viver as inesquecíveis memórias do automobilismo….
Parabéns Marcelinho, por mais uma bela matéria…
Muito interessante a análise que Marcelo faz, de como o ídolo se torna popular, é isso, Ayrton Senna não era ídolo só porque vencia, mas porque sabia se identificar com as coisas que o povo espera que se faça, que nós gostaríamos de fazer, superar a pressão do adversário, retribuir a gentileza do companheiro, elevar e levar o nosso Símbolo Sagrado, pelos quatro cantos do mundo. Parabéns Marcelo Maranello, por manter vivo em nossas memórias, os feitos deste grande ídolo, deste grande homem.
Mais um excelente texto meu amigo!
Materia ótima