O Dezembro Vermelho é um marco de grande mobilização nacional, que convoca a população para lutar a favor da prevenção, assistência e proteção dos direitos das pessoas infectadas com o vírus do HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). Essa campanha é ancorada pela Lei nº 13.504, de 7 de novembro de 2017, e, embora se fale muito sobre o tema, é preciso romper tabus na disseminação das informações.
Um primeiro ponto de atenção é sobre a mudança do termo de Doença Sexualmente Transmissível (DST) para Infecção Sexualmente Transmissível (IST), em virtude de um indivíduo poder transmitir uma infecção a outro, mesmo sem ter sinais e sintomas. Sabe aquele velho ditado popular que diz: Quem vê cara não vê coração? Quando trabalhamos com prevenção das ISTs mudamos para: quem vê cara não vê infecção, justamente porque a pessoa pode, naquele momento, estar com seu órgão sexual extremamente higienizado e visualmente não apresentar qualquer sinal ou sintoma de infecção, mas movido pelo desejo você pode ter contato sexual (oral, vaginal, anal) sem o uso de preservativo e se expor ao risco de uma IST.
O segundo ponto relevante é relacionado ao sexo oral sem uso de preservativo, mesmo com tantas campanhas esclarecendo sobre o risco. Ainda há uma lacuna entre a percepção do risco e a mudança de comportamento nesse caso. Em estudo realizado pelos pesquisadores Luiz Carlos Santana de Avila e Denis Gonçalves Ferreira, 89,17% das pessoas declarou não usar preservativos no sexo oral e 92,78% manifestou aceitação para realiza-lo sem preservativos, sendo que nesse estudo 64,26% das pessoas eram do sexo feminino.
Uma frase muito comum é comparar a prática do sexo oral com preservativo a chupar uma bala com “papel”. Garanto que você já deve ter escutado essa afirmação. Contudo, nos últimos 5 anos, surgiram preservativos de todos os tamanhos, cores e sabores. Portanto, essa bala pode ser bem saborosa e segura, acionado emoções diferentes. Mas, se mesmo assim, a exposição aos riscos é mais tentadora, é preciso atentar-se para os riscos do sexo oral sem preservativos.
As principais ISTs listadas pelo Ministério da Saúde são o HIV, herpes genital, cancro mole (cancroide), papiloma vírus humano (HPV), doença inflamatória pélvica (DIP), donovanose, gonorreia e infecção por clamídia, linfogranuloma venéreo (LGV), sífilis, infecção pelo HTLV e tricomoníase. Em 2020, o número total de casos de sífilis notificados no Brasil foi de 115.371, com a taxa de detecção mais elevada em Santa Catarina com 113,4 casos/100.000 habitantes. A maior parte das notificações da sífilis adquirida ocorreu em indivíduos entre 20 a 29 anos (38,8%), seguidos por 30 a 39 anos de idade (22,5%), dados expressos pelo Boletim Epidemiológico de Sífilis de 2021 do Ministério da Saúde.
Os casos de HIV não ficam atrás, segundo dados do Boletim Epidemiológico de 2021 do Ministério da Saúde, de 2007 até junho de 2020 foram notificados 342.459 casos de infecção pelo HIV no Brasil. Os casos de Aids de 1980 até junho de 2020 foram 1.011.617. O país tem registrado, anualmente, uma média de 39 mil novos casos de
Aids nos últimos cinco anos. Nesse período, o registro de casos em homens foi de 664.721 (65,7%) casos e 346.791 (34,3%) casos em mulheres para Aids.
Quando observamos a quantidade de ISTs que existem e visualizamos os números de casos listados de sífilis e HIV/Aids, conseguimos compreender melhor a necessidade de grandes campanhas que abracem de forma efetiva prevenção, assistência e proteção, mas que ainda lutam contra os desafios da mudança de comportamento. O rastreamento das Infecções Sexualmente Transmissíveis irá depender da conduta sexual de risco adotada pelo indivíduo, como a prática de sexo oral, vaginal, anal sem o uso de preservativo e a não adoção de medidas preventivas.
Além disso, ainda existem as infecções entéricas e intestinais sexualmente transmissíveis, que ocorrem na prática sexual anal receptiva sem proteção de barreira. Ou seja, sem uso de preservativo e gel lubrificante. Esse tipo de infecção é comum quando se pratica sexo anal e, na sequência, sexo oral sem barreira de proteção, promovendo a contaminação cruzada entre o pênis, ânus e boca, entre os diferentes parceiros. As principais medidas de prevenção são: o uso de preservativo e gel lubrificante no sexo oral-anal, uso de luvas de látex, a higienização das mãos e da região genital e anal antes e depois do sexo, além dos acessórios utilizados no intercurso sexual como vibradores e plugs anais e vaginais.
Atualmente, a prevenção e a profilaxia das ISTs indicadas voltam-se para diferentes métodos de prevenção ao HIV, IST e hepatites virais durante o mesmo tempo, claro levando em consideração o momento de vida de cada indivíduo. Os principais métodos de prevenção combinados podem ser consultados na internet na chamada “mandala da prevenção combinada”. Entre eles estão a testagem regular para o HIV, profilaxia pré-exposição (PrEP) e profilaxia pós-exposição (PEP), e todos os métodos listados podem ser utilizados sozinhos ou combinados.
Sexo bom é sexo seguro e todas as práticas sexuais têm seu mérito na evocação do prazer, dependendo do gosto e dos desejos de cada indivíduo. A segurança na relação sexual, assim como já usamos no trânsito o “se beber não dirija”, pode manter o prazer por meio da prevenção combinada.
*Willian Barbosa Sales é Biólogo, Doutor em Saúde e Meio Ambiente, Coordenador dos cursos de Pós-graduação área da saúde do Centro Universitário Internacional UNINTER.
Fonte: NQM Comunicação