O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou nesta quinta-feira (27) em depoimento na CPI da Covid que a tendência é que a crise sanitária se estenda até o início de 2022. Também disse que há indícios de que estamos diante de um agravamento da pandemia, agora impulsionada por novas variantes. Para frear a terceira onda, Dimas Covas aponta que é necessário combinar a vacinação com o uso das chamadas medidas não farmacológicas de proteção, como o uso de máscaras e o distanciamento físico.

Dimas Covas ponderou que ainda há “muitas pessoas suscetíveis no Brasil”, o que exige a adoção de medidas não farmacológicas. Criticou não haver uma coordenação central nessas ações.

“A vacina, neste momento, ajudaria muito, mas não resolveria o problema da epidemia. Ela não teria abortado a segunda onda e ela seguramente não vai abortar a terceira onda, porque nós temos ainda muitas pessoas suscetíveis no Brasil. Portanto, as outras medidas, as medidas que são chamadas de não farmacológicas, de enfrentamento à epidemia são fundamentais. Isso foi feito por todos os países do mundo civilizado que conseguiram o controle da epidemia. Alguns estados fizeram isso, mas de uma forma heterogênea; não houve uma coordenação central”, ressaltou.

Reforço

Dimas Covas informou que estudos já estão sendo feitos sobre a necessidade de uma “terceira dose da vacina contra o coronavírus”. Segundo o médico, seria a dose de reforço anual, assim como ocorre com o imunizante contra a gripe, por exemplo.

Ao ser questionado pelo senador Eduardo Girão (Podemos-CE) sobre a morte do músico Nelson Sargento, figura histórica da Estação Primeira de Mangueira, por covid-19, mesmo após ter recebido as duas doses da Coronavac, Covas respondeu que não há nenhuma vacina capaz de garantir proteção total e que vacina não é “escudo”.

“Nenhuma vacina, até este momento, tem demonstrado que protege contra a infecção. Protege contra as manifestações clínicas, principalmente as manifestações clínicas mais graves. A vacina não é uma proteção absoluta. A pessoa que se vacina está relativamente protegida, tem os fatores individuais que entram se ela eventualmente pegar a infecção, e esses fatores são preponderantes, inclusive, para determinação da gravidade”, argumentou.

Em resposta ao senador Humberto Costa (PT-PE), Dimas Covas concordou com o parlamentar ao rechaçar a tese da imunidade de rebanho (de permitir que a população se contamine com o coronavírus para que se crie uma imunidade natural). O diretor do Butantan afirmou que essa teoria já foi descartada por cientistas.

Questionado por Luis Carlos Heinze (PP-RS) sobre o “não reconhecimento” da CoronaVac na Europa, Dimas Covas ponderou que a Europa não usa a vacina o que não significa que não “reconheça” o imunizante. Covas espera que a Coronavac venha a ser reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e logo distribuída pelos membros da iniciativa Covax Facility.

ButanVac

Questionado pelo relator da CPI da Pandemia, Renan Calheiros, sobre a vacina Butanvac, a primeira produzida no Brasil, Covas disse que  já está em produção e e abrange novas variantes do vírus.

“É a vacina 2.0, que já é a segunda geração de vacinas. Essa vacina é a grande esperança dos países pobres, porque ela tem baixo custo e é a segunda versão; já incorpora os conhecimentos científicos [obtidos] com a primeira geração de vacinas “, explicou.

Segundo Dimas Covas, a Butanvac estará disponível no último trimestre deste ano, mas ainda não há tratativas com o Ministério da Saúde para a compra desse imunizante. De acordo com o médico, o Butantan tem 6 milhões de doses em processo e aguarda a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar os estudos clínicos. A expectativa, ressaltou, é produzir ao menos 40 milhões de doses até o final do ano.

Após Fernando Bezerra (MDB-PE), líder do governo no Senado, e Luis Carlos Heinze afirmarem que o governo federal transferiu bilhões para o Butantan, Dimas declarou que o governo federal não investiu um real no desenvolvimento da vacina e só pagou pelas doses entregues em fevereiro de 2021.

“Nós não contamos com recursos federais até que houvesse a assinatura, no dia 7 de janeiro. E aí é pagamento; não houve investimento.”

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