A temporada de 2002 da F1 foi marcada pelo absoluto e massacrante domínio da equipe Ferrari, fazendo com que Michael Schumacher vencesse o campeonato mundial de pilotos bem antes do que se estava acostumado a decidir um título, que geralmente ocorria no mês de Outubro, mas naquele ano de 2002 aconteceu no dia 21 de Junho, no Grande Prêmio da França, em Magny Cours.

Apesar de um ano dominante para a equipe de Maranello, nem tudo foram flores para a Ferrari, que em meio a uma campanha vitoriosa, manchou sua conquista no domingo de dia das mães, dia 12 de Maio, ao mandar Rubens Barrichello ceder a vitória ao alemão Michael Schumacher, no Grande Prêmio da Áustria, no circuito de A1 RING, causando vaias e revolta dos presentes no autódromo.

O mundo do esporte e da F1 vaiaram brutalmente a Ferrari pelo episódio vergonhoso e antidesportivo. Porém, a Ferrari decidiu pareceu ter revisto suas decisões e seus conceitos após uma reunião com a FIA em Paris, após o ocorrido, onde pilotos e equipe foram multados em 1 milhão de dólares.

Grande Prêmio da Europa, Circuito de Nürburgring, na Alemanha, casa de Michael Schumacher, torcida alemã, língua alemã, liderança alemã no campeonato de pilotos,  mas um latino americano na pole position, o colombiano Juan Pablo Montoya da Williams, ao seu lado, seu companheiro de equipe, o alemão Ralf Schumacher, irmão de Michael, na 2ª fila a Ferrari com Michael Schumacher em 3º e Rubens Barrichello em 4º.

Luzes vermelhas se apagam e começa o GP da Europa, as Ferraris largam muito bem, Rubinho ultrapassa Michael Schumacher na largada, ocupando o 3º lugar, mesmo tendo largado na primeira fila, as Williams não são páreas para as Ferraris e logo são superadas por Rubinho e Schumacher, a dupla da equipe de Maranello facilmente abre vantagem na liderança e na tentativa de perseguição a Rubens Barrichello, Michael Schumacher comete um erro, roda e deixa Rubens abrir uma vantagem de 10 segundos.

Pouco a pouco, Schumacher tira a diferença para o brasileiro, primeira parada de boxes, tempos exatamente iguais tanto para Rubens Barrichello, quanto para Michael Schumacher, 8.6 de parada. Estaria a Ferrari tratando seus pilotos de forma igualitária e esportiva? Na disputa pela 4ª posição, Juan Pablo Montoya da Williams se toca com o escocês David Coulthard, da McLaren, na freada da curva 1 do circuito, que tinha sido remodelada naquele ano, o que faz com que Coulthard, extremamente irritado e irônico, aplaude a manobra estabanada do colombiano, que explicou que aquilo ocorreu por estar sem pneus. Resultado: Fim de prova para os dois pilotos!

Tudo caminhava para mais um passeio da Ferrari, mas o fantasma da Áustria insistia em assombrar e cercar de dúvidas o resultado final da prova e povoar as milhões de mentes dos torcedores espalhados por este mundo afora. Segunda parada, a Ferrari fez uma parada ainda mais rápida para Barrichello, com 7.6 e após a 2ª parada, o brasileiro volta à frente de Schumacher. As voltas vão acabando, a corrida chegando ao fim, mas a tensão e apreensão tomavam conta dos mais de 150 mil presentes em Nürburgring, Jean Todt e Ross Brawn, chefe de equipe e estrategista da Ferrari não paravam de falar no rádio com seus pilotos, fazendo com que a angústia perdurasse curva a curva, volta a volta até a linha de chegada. Enquanto isso, os pilotos brasileiros faziam uma boa corrida, com Enrique Bernoldi chegando em 10º com a Arrows e Felipe Massa, com a Sauber, chegando em 6º, pontuando pela 4ª vez em sua temporada de estreia na F1.

Volta final, curva final no Circuito de Nürburgring, Rubens Barrichello aponta na reta com Michael Schumacher colado nele, e cruza finalmente em 1º, conquistava ali a sua 2ª vitória na F1, alívio e comemoração da torcida presente no autódromo, Ross Brawn e Jean Todt se abraçam e se cumprimentam após a bandeirada, parecendo ter tirado um caminhão dos ombros após o episódio lamentável da Áustria. Rubinho no cockpit aplaudia Michael Schumacher e o alemão o aplaudia de volta.

Depois de quase 2 anos, o brasileiro voltava a escutar uma música da qual estava com saudade em uma bandeirada de chegada de um GP de F1, era o Tema da Vitória tocando pela 2ª vez para Rubens Barrichello, que já vencera o GP da Alemanha em Hockenheim, em 30 de Julho de 2000. Era de novo o Brasil no alto do pódio da categoria máxima do automobilismo mundial, momento narrado com grande emoção pelo grande narrador Luís Roberto de Mucio.

Como esquecer aquela épica narração do Luís Roberto, que no momento da chegada dizia ‘’ Rubens Barrichello e Michael Schumacher praticamente juntos, Rubinho vai para a reta, Schumacher atrás dele. Ruuuuuubens Barrichello, é vitória do Brasil no Grande Prêmio da Europa de F1! Vitória do esporte, vitória da moral, vitória dos conceitos, Rubens Barrichello aplaude Michael Schumacher, Rubinho comemora a 2ª vitória na carreira, o torcedor da Ferrari responde, são mais de 150 mil presentes em Nürburgring, e milhões pelo Brasil. É assim que devem ser as coisas no esporte, decididas dentro do campo de jogo, no automobilismo é aí na pista! RUBENS BARRICHELLO É VITÓRIA DO BRASIL!!!! ‘’

Esta vitória colocou Rubens Barrichello definitivamente na briga pelo vice campeonato mundial de 2002, somando 26 pontos, uma vez que o título de campeão já tinha dono, foi uma vitória que veio no domingo que antecedeu o pentacampeonato da seleção brasileira na Copa do Mundo do Japão e da Coreia, vencendo inclusive a seleção da Alemanha na final, por 2X0 com 2 gols de Ronaldo Fenômeno. O jogo foi apitado pelo italiano Pierluiggi Colina, que se despedia da carreira de árbitro, Ferrari italiana, árbitro italiano com o Brasil vencendo de novo. Ou seja, dois domingos seguidos de alegria para o esporte brasileiro.

No pódio, Rubinho era só alegria e emoção, um piloto, um esportista, um pai de 30 anos comemorando sua vitória como se fosse um menino nos tempos do kart, naqueles tempos difíceis em que seu pai, Sr Rubão teve que vender o FIAT 147 para o filho Rubinho poder correr, que novamente chorou ao ouvir o hino nacional brasileiro, mas de forma bem contida, comparado à vitória na Alemanha em 2000, quando debulhou em lágrimas no alto do pódio.

Rubens pôde enfim comemorar pela segunda vez uma vitória na F1, e lavar a alma naquele banho de champanhe que parece exorcizar e mandar para longe toda energia e sentimentos negativos. Aquela vitória, para ele, a 3ª de fato, foi dedicada ao seu filho Eduardo Barrichello, que naquele 23 de Junho de 2002 completava 9 meses de vida, Dudu que nasceu em um domingo de 23 de Setembro de 2001, semana que antecedeu o GP dos EUA, em Indianapolis. Hoje, Eduardo Barrichello, aos 21 anos corre ao lado de seu pai Rubens Barrichello na equipe Fulltime Sports na Stock Car, e conquistou sua 1ª vitória na principal categoria do automobilismo brasileiro, em Cascavel/PR, no dia 18/06/2023.

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7 comentários em “Rubens Barrichello, esta ninguém tira de você!”

  1. Suas memórias são importantes para divulgação e fortalecimento do Automobilismo nacional. Precisamos reconhecer e valorizar aqueles que constroem e fortalecem o Brasil.

    1. Parabéns ao JWNEWS, por publicar mais esta importante matéria de Marcelo Maranello, que está sempre lembramdo momentos importantes aos torcedores brasileiros, apaixonados pelo automobilismo. Só faltou lembrar, que Rubinho é corintiano, mas aí, é outro esporte e outra paixão nacional.

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