O racismo entre os jornalistas é um tema complexo e frequentemente menosprezado, porém exerce um impacto considerável na cobertura de eventos esportivos, particularmente em modalidades como o automobilismo, onde a variedade de profissionais e de cobertura ainda é restrita. A questão do racismo não se restringe apenas à maneira como os atletas são retratados, mas também se manifesta nas redações, no tratamento dado a jornalistas e comentaristas de diversas etnias, e nas chances de progresso na indústria.

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A seguir, discuto alguns pontos relevantes deste assunto.

Diversidade nas Redações e na Gestão de Equipes  

Frequentemente, os jornalistas negros ou de outras etnias encontram obstáculos para atingir posições de destaque nas redações. Ademais, eles podem se sentir marginalizados ou pressionados a adotar comportamentos ou posturas para se “ajustar” em um contexto predominantemente de brancos. A ausência de representatividade nas editorias esportivas, particularmente no automobilismo, implica que as questões raciais são frequentemente minimizadas ou tratadas superficialmente, sem uma compreensão genuína das vivências de pilotos e outros profissionais de diversas etnias.

Microagressões e Discriminação Implícita

Nas redações, jornalistas negros ou de outras etnias podem sofrer microagressões e discriminação implícita. Essas ações podem parecer discretas, mas têm um efeito negativo considerável. Por exemplo, profissionais da imprensa negra podem ser frequentemente questionados sobre sua competência, ou podem ser estigmatizados por serem “os únicos” em um ambiente repleto de colegas brancos. Isso pode gerar um ambiente de trabalho nocivo, onde as ideias e pontos de vista dos profissionais de minorias raciais são negligenciados ou menosprezados.
Ademais, existe um preconceito subentendido ao designar jornalistas negros para cobrir determinados tipos de histórias – como aquelas ligadas à cultura afro-brasileira ou afro-americana, ou aquelas que abordam racismo e desigualdade social. Isso pode reforçar estereótipos e limita o campo de atuação dos jornalistas, muitas vezes impedindo-os de cobrir uma gama diversificada de assuntos dentro do esporte.

Cobertura Superficial de Questões Raciais

Em relação ao racismo no esporte, frequentemente a mídia não está adequadamente preparada para tratar do assunto de maneira aprofundada e informada. Isso pode acontecer por causa da ausência de diversidade nas redações, onde os jornalistas brancos, sem um entendimento adequado das vivências de atletas de diversas etnias, tratam o assunto de forma simplista ou sensacionalista.
Em casos de racismo no automobilismo, por exemplo, a cobertura pode se restringir a relatar o evento, sem abordar adequadamente a questão do racismo sistêmico no meio esportivo ou social. Isso não só compromete a percepção do público acerca da seriedade do racismo, como também debilita os esforços para enfrentá-lo de maneira eficiente. Por outro lado, jornalistas negros podem encontrar resistência ao propor uma perspectiva mais profunda e ponderada sobre o racismo, ou podem ser marginalizados ao tentar enfatizar a relevância de questões raciais na cobertura de eventos.

Desafios enfrentados por jornalistas negros.

Os jornalistas negros se deparam com desafios singulares no cenário da imprensa esportiva.
Em alguns casos, eles podem ter dificuldade em ser aceitos em uma indústria majoritariamente branca, onde muitas vezes são os únicos profissionais de etnia negra. A competição por posições de destaque é feroz, e muitos jornalistas negros podem se sentir pressionados a trabalhar mais para provar sua competência, além de lidar com o peso das expectativas em relação à sua atuação.

Além disso, esses profissionais podem ser alvo de discriminação em aspectos como salários, promoções e oportunidades de trabalho. O racismo estrutural também se reflete nas ferramentas e plataformas que os jornalistas negros têm à sua disposição para promover seu trabalho, muitas vezes sendo marginalizados em termos de visibilidade e alcance.

Ausência de Espaços para Vozes Diversas

Dentro da imprensa esportiva, as vozes das minorias raciais muitas vezes são silenciadas ou sub-representadas. Isso inclui não apenas jornalistas e comentaristas, mas também especialistas, analistas e influenciadores de diferentes etnias, cujas perspectivas e experiências poderiam enriquecer a cobertura e criar uma abordagem mais diversificada e inclusiva do esporte. A falta de plataformas adequadas para essas vozes significa que o jornalismo esportivo continua sendo dominado por uma narrativa única e frequentemente não questionada.

Além disso, em muitos casos, jornalistas negros enfrentam o desafio de serem os “únicos” representantes de suas etnias em um meio predominantemente branco. Isso pode resultar em uma sensação de solidão e desconexão, além de ser uma pressão constante para representar toda uma comunidade, o que não é justo nem realista.

Responsabilidade da Mídia em Combater o Racismo

A imprensa tem um papel fundamental na educação e conscientização do público sobre o racismo. No caso do automobilismo, onde a diversidade racial continua a ser um problema, os veículos de comunicação devem ser mais proativos em promover a inclusão racial, garantindo que jornalistas de diferentes etnias tenham as mesmas oportunidades de sucesso.

Isso envolve a criação de espaços para a voz e perspectiva de jornalistas negros, bem como a construção de uma cultura de respeito e acolhimento dentro das redações. A imprensa também tem a responsabilidade de abordar o racismo de forma séria e fundamentada, apoiando pilotos e outros profissionais de minorias raciais, além de ajudar a eliminar estereótipos e preconceitos nas coberturas e narrativas esportivas.

Conclusão

O racismo dentro da imprensa esportiva é uma questão complexa e multifacetada que afeta não apenas os jornalistas negros, mas também a maneira como as histórias são contadas e como as questões raciais são abordadas no esporte. Para que o jornalismo esportivo seja mais inclusivo e representativo, é necessário que haja uma mudança estrutural nas redações, incluindo maior diversidade racial, mais oportunidades para jornalistas de etnias minoritárias e uma abordagem mais profunda e sensível das questões raciais. Isso ajudará a criar um ambiente mais justo, onde todas as vozes possam ser ouvidas e respeitadas.

 

Fonte: Júlio D’Paula | MTB: 0085187/SP

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