Dignidade feminina, menstruação, absorvente e Bolsonaro foram as palavras que mais se ouviu na mídia e no meio da classe política.

Tudo porque o presidente Jair Bolsonaro vetou projeto de lei que previa a distribuição de absorventes para mulheres carentes e, entre as desculpas dadas por ele, estavam a que se aprovasse a proposta poderia colocá-lo em risco de sofrer  impeachment e que não havia fonte de custeio para a medida.

Bolsonaro é acusado de vetar o projeto por cunho político e não restrições legais. Primeiro ponto, ao texto apresentado pela  deputada Marília Arraes (PT-PE) previa como fontes de recursos para bancar a iniciativa o SUS – já que está relacionado a saúde, sim – e o Fundo Penitenciário (Funpen), por exemplo.

Segundo ponto, independentemente das ações de Bolsonaro e suas alegações, o fato é que falar sobre menstruação ainda é tabu. Tive a sorte de ter um pai que pensava muito além de seu tempo. O assunto era “proibido” com minha mãe, criada nos moldes antigos de disfarçar que existia o ciclo menstrual.

Lembro que meu pai, com cinco mulheres em casa – minha mãe, eu e minhas duas irmãs -, comprava absorventes de fardo, já que saía mais barato. Porém, em uma ida ao supermercado – lembrando que o episódio data de mais de 20 anos, mas ainda é atual – seu Antonio, que estava com o carrinho lotado de absorventes, observou uma senhora criticando a exposição acintosa do produto. Meu pai, que sempre nos ensinou que menstruar era normal, olhou para a senhora – sim, uma mulher – com cara de reprovação e falou: “tenho um ciclo muito intenso”.

Lembranças à parte, o fato de esconder a normalidade de se menstruar faz com que muitas mulheres que não têm condições de arcar com o custo do absorvente utilizem materiais com papelão, plástico, papel higiênico de baixa qualidade, pano, ou seja, qualquer coisa que segure o sangue, colocando a saúde em risco.

Graças a Deus os tempos mudaram e vemos governantes se mobilizando para contornar essa situação e fazer com jovens não faltem à escola e que as mulheres de baixa renda possam se movimentar sem medo da tão temida mancha na roupa – como se a mancha fosse um crime.

Vale destacar que existem alternativas ao absorvente, como o coletor menstrual e a calcinha absorvente, ambos reutilizáveis.  Vale destacar também que a previsão de gasto com o projeto é de R$ 84 milhões por ano, o suficiente para atender cerca de 6 milhões de meninas e mulheres.

Vamos fazer umas contas rápidas. Apenas com leite condensado o governo federal gastou, em 2020, R$ 15,6 milhões. Cinco motociatas do presidente consumiram dos cofres públicos R$ 2,8 milhões – ele fez ao menos 12. Esses são apenas alguns exemplos de como nosso dinheiro – sim nosso, já que os recursos são provenientes dos impostos que pagamos – é gasto com coisas que não acrescentam em nada para a população.

Caso o governo federal precise de alternativas – além de enxugar as despesas com supérfluos -, a Prefeitura de Diadema vai lançar, no sábado (16) o programa “Ciclo do Bem – Diadema em defesa da dignidade menstrual”, que entre os objetivos traz o combate à pobreza menstrual e a diminuição do tabu de se falar abertamente sobre a menstruação e suas consequências.

Para driblar a falta de recursos,  a prefeitura vai lançar uma campanha de arrecadação de absorventes  e itens de higiene. Daí a importância de se desmistificar a menstruação. Fica a dica para os que têm medo de impeachment e não encontram recursos.

Quem quer faz, não busca desculpas.

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